sábado, 9 de agosto de 2008

Minhas palavras em sua mente: frias pedras polidas afundando num brejo.

Aqueles frios dedos serenos tocaram as páginas imundas e lindas, onde minha vergonha vai brilhar para sempre. Frios dedos serenos e puros. Será que nunca erraram?

Seu corpo não tem cheiro: flor inodora.

Nas escadas. Uma frágil mão fria: timidez, silêncio: olhos escuros lânguidos e líquidos: cansaço.

Turbilhões de vapor sobre o banhado. Seu rosto, como estava cinza e solene! Emaranhados cabelos úmidos. Seus lábios apertam suave, o hálito sofredor se solta. Beijada.

Suaves lábios chupando beijam minha axila esquerda: um beijo serpente em minhas veias miríades. Fervo! Me retorço como uma folha que queima! Da minha axila direita salta um dente de fogo.

Uma coberta estelar me beijou: uma gélida serpente da noite. Estou perdido!

--- Nora! ---

Despreparo. Um apartamento nu. Nojenta lua do dia. Um grande piano preto: túmulo da música. Equilibrado em sua borda um chapéu de mulher, com flores vermelhas, o guarda-chuva, fechado: seu brasão: capacete, escarlate, e lança sem ponta sobre um fundo preto.

Dedicatória: me ame, ame meu guarda-chuva.



Fragmentos da novela Giacomo Joyce, de James Joyce, em tradução de Paulo Leminski.

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