quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Escutar o sutra do coração

http://www.youtube.com/watch?v=ciYO7mWq3Og&feature=related

Buda

Tudo surge e acaba. Quando alguém percebe isso, fica acima da tristeza. Somente o amor dissipa o ódio. Como se traz a luz? Torne-se silencioso, sem pensamentos, desperto: é assim que se traz a luz.
Ver peixe com face humana.

http://www.youtube.com/watch?v=gTVwgvqhwn8&NR=1

Paul Kaffáva (1935-2006)


Acima a última foto do irlandês Paul Kaffáva. O tigre de dentes-de-sabre o devorou sem piedade. Havia neve nesse dia e a neve é fria.

Ver o tigre branco atrás do vidro
que tenta atacar uma criança

http://www.youtube.com/watch?v=87pDGsTYCqU&feature=related

Bruno Barbey, sem data

Vento quente no jardim da Casa de Água. Más valdría no haber nacido. Balofas nuvens: no undoso céu curvas imensas de cristal emanam dos eucaliptos e, se fumo erva-cidreira, me transmudo para um filme de Fellini, no exato instante daquele take de Amacord em que uma freira anã ajuda o louco de pedra a descer da árvore. Não sei se é o efeito do capim-cidreira, que clarifica e intensifica tudo a meu redor; também não sei se essas balofas nuvens algum dia existiram. Para me distrair, enquanto Lucana se espreguiça na banheira, eu leio Arkadii Dragomoshenko na varanda da Casa de Água, sorvo ostras com limão, crustáceos com salsa e coentro. Eu lendo a ode em que Arkadii Dragomoshenko descreve o último suspiro de Oskar Kokoschka. Depois abandono as odes, contemplo na banheira a respiração daquela que, após o banho de sais, vem espraiar-se ao vento.



Hokusai (1760-1894)

Ver a “Cena do conversível”,

do filme Asas do Desejo,

de Wim Wenders.

http://www.youtube.com/watch?v=6dDtZ-B0ohw

Eduardo Cervantes

O pequeno inseto com asas brancas descerra a porta de aço maciço. O insignificante, o mínimo, o quantum descerram a porta maciça.

Aqui, no Templo de Sat, Eu, o arqueiro quântico, empunho o Arco, a Flecha e recito: tenho o dom de atrair o acontecimento de acasos felizes.

Diz o Buddha:

“Antes que a primeira vela

se acendesse,

a vela já estava acesa”.

Nessa hora sem sombra, ignoro tudo na arte em que sou exímio. Apenas contemplo puramente o alvo.

Algo dispara, algo acerta. Algo: a essência de uma coisa.

O mérito desse tiro, no entanto, não me pertence, pois ao permanecer esquecido de mim mesmo e de toda intenção, no estado de tensão máxima, o disparo foi realizado pelo Algo que, tal qual uma fruta madura, caiu.

Só o que escuto é um zunir que perfura o ar:

Algo dispara a flecha,

algo acerta o alvo.

Mas Algo também diz, se afinarmos a escuta:

Algo diz pára de sofrer,

diz pára de mentir,

diz pára de ter ressentimento,

diz pára de baixo-estima

e algo acerta o alvo.

O ponto em que a coisa-em-si (o Átman: o indestrutível) entra mais imediatamente no fenômeno é aquele em que a consciência (mente sem pensamentos) ilumina a Vontade.

Mente: consciência com pensamentos.

Sono, sonho, vigília.

A psique (alma), para os gregos, significa: inseto, mulher bonita, sopro.

O pequeno inseto com asas brancas descerra a porta de aço maciço. O insignificante, o mínimo, o quantum descerram a porta maciça.

Ou como dizia Paulo Leminsky: “E no interior do mais pequeno abre-se profundo a flor do espaço mais imenso”

O que é o quantum? A menor medida possível da matéria, que não pode ser subdividida em nada menor. Segundo Stephen Hawking, quantum é “a unidade indivisível em que as ondas podem ser emitidas ou absorvidas”.


O texto acima é fragmento do livro

"O arqueiro quântico",

de Fernando José Karl

Peter Potter, 1920

SE EU MESMO FOSSE O INVERNO SOMBRIO
(A cisterna --- Opus 1)

Eu ouço a fonte dos tontos.
Quem ouve a fonte dos tontos não cabe mais dentro dele.

Manoel de Barros



Caí na cisterna abobadada de Bahr El Khabeer
para escutar mel nas ostras,
para escutar a fonte dos tontos,
para escutar o sumo solar.
Aqui na cisterna tenho orgias de latim
e sou virgem de mulheres.
Meus olhos cobertos por vidros fumados,
de aros muito grossos e talvez prateados.
A cisterna mormacenta sufoca,
enquanto rememoro as cavilações
daquela noite de runas que vaticinou:
eu só poderia clarear o inverno sombrio
se eu mesmo fosse o inverno sombrio.

Ruth Bernahrd, 1934

Ver a dança da Carmencita,

em 1894.

Onde andará?


http://www.youtube.com/watch?v=-hH

Andy Wahrol (1928/1987)

John Deakin, 1952

A propósito de algumas caligrafias de Georgia O’Keeffe, tive agora um pressentimento do pó que sou. Eu quis me fazer monja no convento das Carmelitas e tive que aprender muito sobre jarros e hidráulica. Jarros valem o mesmo que nada e a retina onde se molham, menos ainda. Uma sereia, tornando a escutar aquelas ondas de grosso mar sob a embarcação, encontraria nela Ulisses amarrado ao mastro e remadores com cera nos ouvidos. O filósofo naturalista colheria da cena elementos para desvelar a loucura. Um que seja furioso bate a cabeça no muro e descobre que mais vale andar pela varanda do que fincar no peito um arpão, e observa que as linhas da chuva que se espalham contra a vidraça também escreveram, em grego aquático, pelas calhas, a ode que ninguém pode ler.

Nesse ano entrei para o Clube dos Vencidos da Vida. Nos encontros dominicais é costume bater o martelo e vociferar: “Os olhos vão ver o paraíso, sim, mas serão olhos apodrecidos”.

Uma noite, como saísse do conservatório – fui escutar um quinteto de Brahms – encontrei com a senhorita Chuva e fomos tomar chá. Imagine: chá na boca de chuva da senhorita Chuva. Era aquática figura de ninfa: os cabelos, os olhos de água. Já foi possuída nos terrenos baldios: os brutos todos penetraram as ancas da senhorita Chuva, chuparam laranjas em seus flancos, e um pouco daquele ar distante que tinha, perdeu-se. Ninguém mais viu sua inocência exilada.

Ao chá conversamos sobre como assassinar aqueles que a violaram e, pouco depois, de hidráulica aplicada, o que me assombrou bastante; o usual nos encontros era conversarmos sobre louças, abismos.

Depois do encontro com Senhorita Chuva, uma lufada de vento me ergue do chão e sobrevôo os casarios com pomares e um coro de anjos, com mais de cem asas, grita que os imperadores antigos não encontraram o alimento que procuravam e, só por isso, morreram.

Água da chuva nos olhos mortos, senhorita Chuva.


Cartaz de estréia de "Zorba, o grego".

Zorba the Greek, intitulado originalmente Αλέξης Ζορμπάς ou Alexis Zorbas (em português, Zorba, o grego) é um filme greco-americano de 1964 baseado no romance homônimo Zorba, the Greek, de Nikos Kazantzakis.

O filme foi dirigido por Michael Cacoyannis e o personagem-título foi interpretado por Anthony Quinn — que não era grego, mas sim irlandês mexicano. O elenco incluiu Alan Bates como visitante britânico. O tema, "Sirtaki", de Mikis Theodorakis, tornou-se famoso e popular como canção e dança (especialmente em festas).

O filme foi rodado na ilha grega de Creta. Lugares específicos incluem a cidade de Chania, a região de Apokoronas e a península de Akrotiri. A famosa cena onde o personagem interpretado por Quinn dança o Sirtaki foi rodada na praia do vilarejo de Stavros.

Zorba the Greek quase foi nominado para o Oscar de melhor ator-coadjuvante para o ator Sotiris Moustakas, mas acabou sendo rejeitado devido à sua participação – curta demais. Na Grécia, o ator é felicitado pelo seu desempenho como o bobo da cidade. O filme foi distribuído pela 20th Century Fox.

Ver Anthony Quinn
no filme "Zorba, o grego".

http://www.youtube.com/watch?v=cXNApZ2ALiQ&feature=relate