quinta-feira, 16 de setembro de 2010

George Seeley, 1910

A MORTE DA IMPERATRIZ VIÚVA BIWA

Vida e morte é uma ida-e-volta.
Quem pode saber se morrer aqui
não é nascer em outro lugar?

Lie Tse



A imperatriz viúva Biwa morreu

logo ela que se lavava com leite de peixe
penteava os cabelos no vento
logo ela morreu
medo tinha a viúva Biwa
medo dos vermes que a corroessem
medo da laje tumular
que fizesse sombra à sua pele
branca

Jaroslav Rössler, 1932

A PEDRA E O POEMA

A pedra e o poema
não comem,
não bebem,
não dormem.

Por séculos a fio estancam onde estiverem.
Se na pedra e no poema damos um pontapé,
ficam no local em que foram arremessados
e se aquietam.

Contudo, na Alquimia,
essa pedra e poema desprezados
são o símbolo da meta suprema.

A pedra e o poema já não buscam,
sabem que o sagrado existe.
Experimentaram o paraíso por um segundo.
DAR BANHO NA MOSCA
(Oito milhões são as divindades do Shinto,
o mais leve dos cultos)

Por que não perfumar a mosca
com incenso de musgo?
Esse frescor de água na garganta
nunca foi para a mosca.
Escuta: a mosca quer adágio d'água
e ventilador nas noites areentas.
Mosca rajada pelo Shinto.
No pátio espanhol compartilhamos
eu e a mosca
aragens, jardins, terraços.
Fonte oca de alaúde,
a mosca no mar de ondas.

Clara Whitcomb, 1898

REVELAÇÃO

Esculpido na água viva da constelação
durante o século I dos linces
eu, Juliá, moro teu azul de oásis,
oásis com cadáveres obcecantes.

Moro teu azul de oásis
dolorido, com esperas soçobradas
um corpo, um ancoradouro de aparições
que são ventanias, depois trevas,

porque foi sempre assim a loucura:
estarmos aqui de improviso, as frontes
apenas aparentes, lágrimas

acendidas sob a máscara, nossa febre suave
e uma palmeira alta como a ressurreição
inclinada simples e musical na noite clara.