Nasci em Joinville/SC no ano de 1961. Sou autor, entre outros livros, de "Casa de água" (Poesia), "O livro perdido de Baroque Marina" (Romance) e "Senhora do gelo" (Novela).
O jaguar luminoso sobre o muro de quartzo é a noite em chamas; é a trama da água penetrada de sol, seu movimento cadencioso. Sobe ao zênite de seus domínios, adentra a claridade. No amplo espaço abrupto, sua pele constelada é um lampejo, o doce e morno florescer do cristal, um traço breve sobre o gelo. A pedra e o céu se tocam; astros escuros e imensidão. Templo de inalterada transparência, o dia sustém e oferenda a preamar noturna.
Poema de Coral Bracho traduzido por Josely Vianna Baptista
"Sunyata", em japonês, siginifica "vazio".
Vaso japonês
NAS ENTRANHAS DO TEMPO
O tempo cede e entreabre sua delicada profundidade (Portas que protegem umas às outras; que entram umas nas outras; traços, rastros de mar.) Um outono de lenhos e frondes. Em seu fundo: A espessura translúcida do prazer; suas heras íntimas: Ouro: foliações de luz: Fogo que se enraíza no metal florescido, e um musgo fino, incandescente.
Poema de Coral Bracho traduzido por Josely Vianna Baptista
Lâmpada, não esquente. Da parede saiu um braço magro de mulher. Era pálido e tinha veias azuis. Os dedos estavam carregados de preciosos anéis. Quando beijei a mão, assustei-me: Estava viva e quente. Arranhou-me o rosto. Peguei uma faca de cozinha e cortei algumas veias. Um grande gato lambeu graciosamente o sangue do chão. Entretanto um homem de cabelos arrepiados subiu Por um cabo da vassoura encostado à parede.
Poema de Jakob van Hoddis, traduzido por Claudia Cavalcanti
"Kami", em japonês, significa "vento".
A poesia parece estar mais do lado da música e das artes visuais do que da literatura. Ezra Pound acha que ela não pertence à literatura e Paulo Prado vai mais longe: declara que a literatura e a filosofia são as duas maiores inimigas da poesia. De fato, a poesia é um corpo estranho nas artes da palavra. (...) Poesia é a arte do anti-consumo. A palavra ‘poeta’ vem do grego ‘poietes = aquele que faz’. Faz o quê? Faz linguagem. E aqui está a fonte principal do mistério. (...) Para o poeta, mergulhar na vida e mergulhar na linguagem é (quase) a mesma coisa. Ele vive o conflito signo x coisa. Sabe (isto é, sente o sabor) que a palavra ‘amor’ não é o amor — e não se conforma... (...) O poema é um ser de linguagem. O poeta faz linguagem, fazendo poema. Está sempre criando e recriando a linguagem. Vale dizer: está sempre criando o mundo. Para ele, a linguagem é um ser vivo. O poeta é radical (do latim, radix, radicis = raiz); ele trabalha as raízes da linguagem. Com isso, o mundo da linguagem e a linguagem do mundo ganham troncos, ramos, flores e frutos. É por isso que um poema parece falar de tudo e de nada, ao mesmo tempo. É por isso que um (bom) poema não se esgota: ele cria modelos de sensibilidade. (...) O lingüista Chomsky distingue dois níveis no fato lingüístico: o nível da competência e o nível do desempenho. O nível de competência refere-se ao nível de domínio técnico da linguagem (...). O nível do desempenho é aquele em que o falante cria em cima do nível de competência. É claro que esses níveis não são separados. (...) Muita inibição ao nível do desempenho é provocada pela insegurança no nível da competência. É nisto que se apóia a censura, de fora e de dentro (auto-censura) para impedir que você crie. Vamos reabrir ambas as válvulas.”