O JASMIM NO FRASCO
Duas semanas antes de morrer,
meu avô soprou dentro do frasco transparente.
Frasco com 15x10 cm, na estante da oficina,
vedado a tampo de borracha.
Depois que ficou sob a pedra tumular,
meu avô restou apenas naquele frasco.
Fui ao Cemitério Municipal,
rondei sete sepulturas, benzi pedras e gatos.
Nada.
O velho Wilhelm não estava em nenhum lugar.
Nada.
Com a barca invisível da solitude, retornei à casa.
Pelas ribanceiras jasmins ondulavam.
Um deles cortei do caule, depois o esqueci no frasco.
sexta-feira, 7 de março de 2008
Ver a clássica cena do barbeiro
no filme
O Grande Ditador,
de Charles Chaplin.
A música que toca no rádio é a
Dança Húngara n* 5,
de Brahms.
http://www.youtube.com/watch?v=J7_0rUZyuos
no filme
O Grande Ditador,
de Charles Chaplin.
A música que toca no rádio é a
Dança Húngara n* 5,
de Brahms.
http://www.youtube.com/watch?v=J7_0rUZyuos
PAISAGEM GÓTICA
Lautréamont e o vazio em núpcias góticas,
no calabouço faiscando de estrelas.
A raga lava o régio e o nenúfar no casco
do rinoceronte de orvalho:
--- lapidem esse aquam fontis vivi (*).
Molha o fogo a língua sânscrita:
o êxtase consome a onda, a onda passeia o mar
de sibilas e o íbis neva num outro mundo.
No calabouço de pedra pura, o vazio e Lautréamont
agarram-se pelos cantos sombrios
de um quarteto de Villa-Lobos, garfo de serpente
na pele de seda sob uma chuva de oro,
chuva de oro de los kamikases.
O vazio e o anzol
– véu negro contra a tez esbranquiçada.
O vazio serve mel ao tigre, sopra no mármore do castelo.
O vazio sabe que a carne do espírito
é brilhante,
impossível.
* Lapidem esse aquam fontis vivi: a pedra é uma fonte de água viva
Lautréamont e o vazio em núpcias góticas,
no calabouço faiscando de estrelas.
A raga lava o régio e o nenúfar no casco
do rinoceronte de orvalho:
--- lapidem esse aquam fontis vivi (*).
Molha o fogo a língua sânscrita:
o êxtase consome a onda, a onda passeia o mar
de sibilas e o íbis neva num outro mundo.
No calabouço de pedra pura, o vazio e Lautréamont
agarram-se pelos cantos sombrios
de um quarteto de Villa-Lobos, garfo de serpente
na pele de seda sob uma chuva de oro,
chuva de oro de los kamikases.
O vazio e o anzol
– véu negro contra a tez esbranquiçada.
O vazio serve mel ao tigre, sopra no mármore do castelo.
O vazio sabe que a carne do espírito
é brilhante,
impossível.
* Lapidem esse aquam fontis vivi: a pedra é uma fonte de água viva
A POBREZA ESTILÍSTICA DA BRISA
O zazen, o agora, um sopro,
tudo é eternidade.
Yoka Daishi
A brisa atravessa o muro de pedra,
sopra flores em iguanas e retinas.
Antigamente foi princesa,
lambia sobrancelhas da deusa Saho,
via lágrimas no Olho do olho.
No século I vivia no pulmão da Phonte,
comia terra, benzia pedras e gatos.
Agora mata a sede no orvalho branco.
O zazen, o agora, um sopro,
tudo é eternidade.
Yoka Daishi
A brisa atravessa o muro de pedra,
sopra flores em iguanas e retinas.
Antigamente foi princesa,
lambia sobrancelhas da deusa Saho,
via lágrimas no Olho do olho.
No século I vivia no pulmão da Phonte,
comia terra, benzia pedras e gatos.
Agora mata a sede no orvalho branco.
LUCTANTES VENTOS
TEMPESTATESQUE SONORAS
No mais mineral das profundas prosas altas,
onde a viola de chuva se esconde,
lá onde as piscinas ondulam tempestuosas,
quando o escarcéu das águas se avulta,
lá a voz selvagem e as iguanas sedentas,
lá, na voz, se aclara a palavra nunca vista
e a obsedante garoa rega a pedra da elegia.
No alto-mar de transparente massa cristalina,
quanto mais ao alto-mar de silêncio perto,
mais a voz vai aclarando,
se antiga é a alma que se vislumbra,
assim das profundas mostra claro e radiante
o mineral das prosas altas
que serena o que, nas sedentas, há de árido.
TEMPESTATESQUE SONORAS
No mais mineral das profundas prosas altas,
onde a viola de chuva se esconde,
lá onde as piscinas ondulam tempestuosas,
quando o escarcéu das águas se avulta,
lá a voz selvagem e as iguanas sedentas,
lá, na voz, se aclara a palavra nunca vista
e a obsedante garoa rega a pedra da elegia.
No alto-mar de transparente massa cristalina,
quanto mais ao alto-mar de silêncio perto,
mais a voz vai aclarando,
se antiga é a alma que se vislumbra,
assim das profundas mostra claro e radiante
o mineral das prosas altas
que serena o que, nas sedentas, há de árido.
Ver a lista dos mamíferos extintos
de 1500 até hoje
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_mam%C3%ADferos_extintos#Cetacea
de 1500 até hoje
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_mam%C3%ADferos_extintos#Cetacea
Ver a lista dos pássaros extintos
de 1600 até hoje
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_aves_extintas
de 1600 até hoje
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_aves_extintas
Ver o último tigre da Tasmânia,
filmado em 1933.
Não há mais tigres da Tasmânia
no mundo.
http://www.youtube.com/watch?v=6vqCCI1ZF7o&feature=related
filmado em 1933.
Não há mais tigres da Tasmânia
no mundo.
http://www.youtube.com/watch?v=6vqCCI1ZF7o&feature=related
VIOLETA
Um entregador de cerveja afogado
foi posto sobre a mesa.
Alguém fincou-lhe entre os dentes uma violeta
de um lilás claro-escuro.
Quando de dentro do peito,
por baixo da pele,
com um grande bisturi,
cortei para fora língua e palato,
devo tê-la acertado, pois escorregou
para dentro do cérebro ali ao lado.
Coloquei-a na cavidade toráxica
entre a linha dos pontos
costurados.
Sacie no seu vaso sua sede!
Descanse em paz,
violeta!
Poema de Gottfried Benn traduzido por Ana Rusche
Um entregador de cerveja afogado
foi posto sobre a mesa.
Alguém fincou-lhe entre os dentes uma violeta
de um lilás claro-escuro.
Quando de dentro do peito,
por baixo da pele,
com um grande bisturi,
cortei para fora língua e palato,
devo tê-la acertado, pois escorregou
para dentro do cérebro ali ao lado.
Coloquei-a na cavidade toráxica
entre a linha dos pontos
costurados.
Sacie no seu vaso sua sede!
Descanse em paz,
violeta!
Poema de Gottfried Benn traduzido por Ana Rusche
BELA JUVENTUDE
A boca de uma moça que há muito jazia
em meio aos juncos
parecia toda roída.
Quando abriram o peito, o esôfago era só buracos.
Acabaram achando num recanto embaixo do diafragma
um ninho de ratos jovens.
Uma das irmãzinhas pequenas morrera.
Os outros viviam do fígado e dos rins,
bebiam sangue frio e tinham
passado ali uma bela juventude.
E bela e pronta foi também a morte deles:
foram jogados todos juntos na água.
Ah, como os focinhos guinchavam!
Poema de Gottfried Benn, traduzido por Mario Luiz Frungillo e Luís Gonçales de Camargo
A boca de uma moça que há muito jazia
em meio aos juncos
parecia toda roída.
Quando abriram o peito, o esôfago era só buracos.
Acabaram achando num recanto embaixo do diafragma
um ninho de ratos jovens.
Uma das irmãzinhas pequenas morrera.
Os outros viviam do fígado e dos rins,
bebiam sangue frio e tinham
passado ali uma bela juventude.
E bela e pronta foi também a morte deles:
foram jogados todos juntos na água.
Ah, como os focinhos guinchavam!
Poema de Gottfried Benn, traduzido por Mario Luiz Frungillo e Luís Gonçales de Camargo
Olhe atentamente para a Vida. Ela não pode existir sozinha, por conta própria. Algo maior tem de estar atuando por detrás dela. É na vastidão infinita do não-existir que a existência se apóia. O não-manifesto está influenciando a existência manifesta.
É isso que Lao Tzu diz: "Olhe para a existência e sinta a não-existência por detrás dela. E a seguir faça o caminho inverso, olhe para a não-existência e veja a relação que ela tem com a existência."
Com uma persistente repetição dessa meditação, você estará olhando para os dois lados. E chegará o momento em que, de tanto olhar para esses lados contrários, você conseguirá perceber o ponto onde a existência e a não existência se fundem: exatamente no centro.
O centro é a fonte de onde flui o ser e o não-ser.
Esse ponto é a porta. Neste ponto está o Tao. Esse ponto nulo é todo o significado da espiritualidade, é toda a espiritualidade. É ali que mora Deus.
É isso que Lao Tzu diz: "Olhe para a existência e sinta a não-existência por detrás dela. E a seguir faça o caminho inverso, olhe para a não-existência e veja a relação que ela tem com a existência."
Com uma persistente repetição dessa meditação, você estará olhando para os dois lados. E chegará o momento em que, de tanto olhar para esses lados contrários, você conseguirá perceber o ponto onde a existência e a não existência se fundem: exatamente no centro.
O centro é a fonte de onde flui o ser e o não-ser.
Esse ponto é a porta. Neste ponto está o Tao. Esse ponto nulo é todo o significado da espiritualidade, é toda a espiritualidade. É ali que mora Deus.
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