sexta-feira, 15 de agosto de 2008



Stéphane Mallarmé, cujo verdadeiro nome era Étienne Mallarmé, nasceu em Paris: 18 de Março de 1842 e morreu em Valvins: 9 de Setembro de 1898.


Última visita

a Mallarmé

Quando comecei a freqüentar Mallarmé em pessoa, a literatura não me era quase mais nada. Ler e escrever me pesavam, e confesso que me resta qualquer coisa desse aborrecimento. A consciência de mim mesmo por ele mesmo, o esclarecimento dessa atenção, e o cuidado de desenhar limpidamente minha existência não me deixava quase nada. Esse mal secreto afasta das Letras, nas quais tem, entretanto, sua origem.

Mallarmé, todavia, figurava em meu sistema íntimo de personagem de arte sábia e o supremo estado da ambição literária a mais elevada. Tinha feito de seu espírito uma profunda companhia, e esperava que a despeito da diferença de nossas idades e do descarte imenso de nossos méritos, o dia chegaria em que eu não recearia de lhe propor minhas dificuldades e minhas opiniões particulares. Isso não era o que me intimidava, porque ninguém me foi mais doce nem mais deliciosamente simples que ele; mas me parecia então que existia uma espécie de contraste entre o exercício da literatura e a perseguição de certo rigor e de uma inteira sinceridade do pensamento. A questão é infinitamente delicada. Deveria eu escondê-la de Mallarmé? Eu o estimava e o colocava acima de tudo; mas eu tinha renunciado a adorar aquilo que ele tinha adorado toda a sua vida, e a que ele tinha tudo ofertado, e não encontrava mais a coragem de lhe fazer entender.

Não via, entretanto, homenagem mais verdadeira a lhe render que lhe confiar meu pensamento, e de lhe mostrar quantas pesquisas, e as análises mais finas e mais preciosas das quais elas procedem, tinham transformado a meus olhos o problema literário e me tinham conduzido a abandonar a partida. É que os esforços de Mallarmé, muito opostos às doutrinas e às preocupações de seus contemporâneos, tendiam a ordenar todo o domínio das Letras para a consideração geral das formas. É extremamente notável que ele tenha chegado, pelo estudo aprofundado de sua arte, e sem conhecimentos científicos, a uma concepção tão abstrata e tão próxima de especulações as mais elevadas de algumas ciências. Ele jamais falava, de resto, de sua idéia senão por figuras. O ensinamento explícito o repugnava estranhamente. Seu ofício, que ele odiava, estava por qualquer coisa nessa aversão. Mas eu, ensaiando de me resumir suas tendências, permitia-me interiormente de designá-las a minha maneira. A literatura ordinária me parecia comparável a uma aritmética, quer dizer, à busca de resultados particulares, nos quais a gente mal distingue o preceito do exemplo; aquela que ele conservava me parecia análoga a uma álgebra, porque ela suporia a vontade de colocar em evidência, de conservar através dos pensamentos e de desenvolver por eles mesmos, as formas da linguagem.

“Mas no momento em que um princípio foi reconhecido e entendido por alguns, é totalmente inútil perder tempo com suas aplicações”, eu me dizia...

O dia que esperava jamais veio.

*

Vi pela última vez Stéphane Mallarmé em 14 de julho de 1898 em Valvins. O almoço terminado, conduziu-me a seu “gabinete de trabalho”. Quatro passos curtos, dois longos; a janela aberta a Seine e à floresta através de uma folhagem toda rasgada de luz, e os mínimos estremecimentos do rio resplandecendo escassamente repetidos pelos tabiques.

Mallarmé se inquietava dos supremos detalhes da fabricação do Lance de dados. O inventor considerava e retocava a lápis esse engenho totalmente novo que a imprensa Lahure tinha aceitado construir.

Não havia ainda a empresa, nem o sonho de empreender, de dar à figura de um texto uma significação e uma ação comparáveis àquelas do texto mesmo. Como o uso ordinário de nossos membros nos faz esquecer sua existência e negligenciar a variedade de seus recursos, e como somente um artista do corpo humano nos permite ver nele às vezes todas as suas flexibilidades, ao preço de uma vida que ele consome em exercícios e que explora aos perigos de seu desejo, assim o uso habitual da palavra, a prática da leitura cursiva e aquela da expressão imediata, debilitando a consciência de seus atos muito familiares e abolindo até a idéia de suas potências e de suas perfeições possíveis, – a menos que sobrevenha e não se consagre qualquer pessoa estranhamente desdenhada das facilidades de seu espírito, mas singularmente atenciosa àquilo que pode produzir os mais desatentos e mais desligados.

Eu estava aos pés dessa pessoa. Nada me dizia que jamais a reveria. Não havia, no dourado do dia, corvo encarregado de pressagiar.

Tudo estava calmo e seguro... Entretanto quando Mallarmé me falava, o dedo sobre a página, lembrava-me que meu pensamento se colocava a sonhar esse momento mesmo. Dar-me-ia distraidamente um valor como absoluto. Sonhava, próximo dele vivo, com seu destino como terminado. Nascido para a delícia de uns, para o escândalo de outros, e maravilha para todos: para estes que, da demência e do absurdo; para os seus, maravilha do orgulho, da elegância e do pudor intelectual, bastaram-lhe alguns poemas para recolocar em questão o objeto mesmo da literatura. Sua obra difícil de entender, impossível de negligenciar, dividia o povo letrado. Pobre e sem honrarias, a nudez de sua condição aviltava todas as vantagens dos outros; mas estava assegurado, sem as procurar, das fidelidades extraordinárias. Quanto a ele, no qual o sorriso do sábio, de vítima superior, acabrunharia devagar o universo, jamais tinha pedido ao mundo aquilo que contém de mais raro e de mais precioso. Ele o encontrava em si.

*

Fomos
ao campo. O poeta “artificial” colhia flores as mais ingênuas. Acianos e papoulas carregadas nos braços. O ar era flama; o esplendor absoluto; a morte impossível ou indiferente; tudo formidavelmente belo, abrasador e dormente; e as imagens do sol tremiam.

Ao sol, na imensa forma do céu puro, sonhava com um recinto incandescente onde nada de distinto subsiste, onde nada dura, mas onde nada cessa; como se a destruição a si mesma se destruísse, apenas realizada. Perdia o sentimento da diferença entre o ser e o não ser. A música por vezes nos impõe essa impressão, que está além de todas as outras. A poesia, pensava eu, não é ela também o jogo supremo da transmutação das idéias?

Mallarmé me mostrou a planície que o verão precoce começava a dourar: “veja, diz ele, é o primeiro toque de címbalo do outono sobre a terra”.

Quando veio o outono, ele não estava mais.


Paul Valèry

Traduzido por Márcio Freire

Charles-Émile Reynaud (1844-1918)



O primeiro desenho.
Charles-Émile Reynaud (1844-1918), francês, foi o pioneiro dos filmes animados.

Ver o primeiro

desenho de animação

do mundo:

Autour d’une cabine,

by Emile Reynaud,

em1894.

http://www.youtube.com/watch?v=A5MXcxaRXN

Retrato de um índio Sioux

Ver uma

dança dos índios Sioux,

1894

http://www.youtube.com/watch?v=HQGW5a0q51w&feature=related

Ruth Bernahrd, 1934

Ver a dança da Carmencita,

em 1894.


Onde andará?

http://www.youtube.com/watch?v=-hH8BMgpQnI

A propósito de algumas caligrafias de Georgia O’Keeffe, tive agora um pressentimento do pó que sou. Eu quis me fazer monja no convento das Carmelitas e tive que aprender muito sobre jarros e hidráulica. Jarros valem o mesmo que nada e a retina onde se molham, menos ainda. Uma sereia, tornando a escutar aquelas ondas de grosso mar sob a embarcação, encontraria nela Ulisses amarrado ao mastro e remadores com cera nos ouvidos. O filósofo naturalista colheria da cena elementos para desvelar a loucura. Um que seja furioso bate a cabeça no muro e descobre que mais vale andar pela varanda do que fincar no peito um arpão, e observa que as linhas da chuva que se espalham contra a vidraça também escreveram, em grego aquático, pelas calhas, a ode que ninguém pode ler.

Nesse ano entrei para o Clube dos Vencidos da Vida. Nos encontros dominicais é costume bater o martelo e vociferar: “Os olhos vão ver o paraíso, sim, mas serão olhos apodrecidos”.

Uma noite, como saísse do conservatório – fui escutar um quinteto de Brahms – encontrei com a senhorita Chuva e fomos tomar chá. Imagine: chá na boca de chuva da senhorita Chuva. Era aquática figura de ninfa: os cabelos, os olhos de água. Já foi possuída nos terrenos baldios: os brutos todos penetraram as ancas da senhorita Chuva, chuparam laranjas em seus flancos, e um pouco daquele ar distante que tinha, perdeu-se. Ninguém mais viu sua inocência exilada.

Ao chá conversamos sobre como assassinar aqueles que a violaram e, pouco depois, de hidráulica aplicada, o que me assombrou bastante; o usual nos encontros era conversarmos sobre louças, abismos.

Depois do encontro com Senhorita Chuva, uma lufada de vento me ergue do chão e sobrevôo os casarios com pomares e um coro de anjos, com mais de cem asas, grita que os imperadores antigos não encontraram o alimento que procuravam e, só por isso, morreram.

Água da chuva nos olhos mortos, senhorita Chuva.

Antoinette Bucquet, 1897

O JARDIM DA SACERDOTISA

No teu corpo tu me pertences,
sete anos de brisa no cativeiro.
Foste da mesma matéria do ópio
que sorvi no cais à espera da barca.
Acerco-me de ti, música de loucos,
para queimar o pulmão nos astros.
O silêncio --- escuto-o de olhos fechados ---
conduz aos espinhos e ungüentos.
Na verdade, o pomar de abios
só existe nos sonhos do pássaro,
que aguça o tímpano e recorda
que no teu corpo a voz sem voz
habita no Jardim da Sacerdotisa,
que à noite venta, de manhã é luz.

Os irmãos Lumière

Chegada do trem à Cidade


Primeira projeção cinematográfica exibida ao público, em 28 de novembro de 1895. Palavras de Georges Meliès, presente à exibição: " A mostra começou com uma fotografia estática que depois de alguns segundos começou a se mover. O trem apareceu e acelerou em direção ao público. Nós estávamos estonteados por esse espetáculo". Na cena, o foco vai pra frente e pra trás, permanecendo a imagem sempre clara. Provavelmente nasce aí o princípio da montagem.

Ver

L'Arrivée d'un train à La Ciotat (1895),

dos irmãos Lumière.

http://www.youtube.com/watch?v=2cUEANKv964&feature=related

Andrej Glusgold


Doutscha

Chuva torrencial
nos arredores de Bremen


Chuva torrencial lá fora e aquela mulher de nome estranho – Doutscha – acende uma erva.

O vinil rodando na vitrola.

Próximo à janela envidraçada, o guarda-chuva aberto e a repentina sombra que ele tatua nas paredes. Cessa uma chuva, principia a neve. A mulher de longos cabelos negros, que tem a alma compassiva, confidencia:

– Neste momento – ela diz como quem se surpreende – a neve, olha a neve...

Tento conversar:

– Quer que cesse a neve? Quer um cigarro? Trago fósforos.

– Não, a neve, olha a neve...

Pois Doutscha foi sempre uma consoladora para quem, como eu, na vida aprecia a lógica e pretende que existir seja uma raiz quádrupla do espírito. Há chuvas que Deus mesmo envia, e são aguaceiros no vazio, nos telhados das casas e nas vidraças. Recolho-me, não aos esconderijos que os outros têm, mas à sombra da ampla árvore nessa rua de Warmstrasse. Desço os lábios à bica d’água atrás da igreja luterana. Tenho caligrafia regular, sal até nas lágrimas, e os meus livros eu os grafo com mergulhar a pena da melancolia no tinteiro velho, enquanto, ao lado daquela árvore mais escura, alguma deusa com a pele transparente me sorri. Tenho amor a isso de haver a deusa Doutscha e eu acariciá-la, talvez porque, essa noite, eu não tenha mais nada a fazer a não ser enrolar uma erva, escutar Chet Baker.

Ou talvez Doutscha só exista nesta narrativa, da mesma forma que o amor de uma alma só pode respirar à beira do vulcão, e, se temos por sina dar amor, tanto vale se o dou à xícara com chá de artemísia ou ao colosso das constelações.

Tenho, muitas vezes, o hábito de fumar cigarros Gauloises.

Que me é esse disco que flue na vitrola um Chet Baker, salvo o instante ocasional em que a agulha toca a pele do vinil e a música, senhora das minhas horas, consola os dias noturnos da melancolia?

Trata-me bem, Doutscha, escuta-me com doçura, salvo nos momentos bruscos em que, por tédio ou inércia, eu te apunhá-lo a clavícula com a faca enferrujada.

Desconhecida, sim, és, Doutscha, mas por que me preocupa um símbolo, uma escada de pedra, um mergulhar o pão no café, e a razão, Doutscha, o que é?

Leio aqui O Livro Negro, de Thamès Carda: “Para mim a morte explica-se como História Natural, como aquilo que tornou possível o pensamento. Se temos uma meta, parece-me que só pode ser a morte. Tudo o que se diz é sempre sobre a morte. O nosso nascimento lança-nos numa amnésia, ávidos de mar grosso e de palavras, ávidos de algumas sombras de amor. Tentamos ressuscitar a xícara e fracassamos, o fôlego e fracassamos, tentamos ressuscitar o que somos nesse instante e fracassamos, porque não se trata de ressuscitar ou não, trata-se de sumir numa Fuga – de Johann Sebastian Bach –, para não se sabe onde, para onde não se sabe mais”.

À sombra de um ventilador, numa casa pequena e repleta com vasos de plantas, lembro-me de tua nudez, Doutscha, lembro-me dela no futuro com a saudade que sei que terei.

Nos arredores desse pequeno jardim buscarei a chuva.

De meu coração, eu pressinto, uma carpa de fogo escapa em andante lentíssimo e fura a cortina do quarto que a brisa estufa de leve e, pelo buraco que a carpa deixou na cortina, eu não verei o vento que não vejo agora.


Máscara de Agamémnon

CLITEMNESTRA

Eu afogo Agamémnon na banheira e reafirmo o preceito cáustico:

– Não chame Agamémnon de feliz, até que ele esteja morto. E agora – morto –, Agamémnon está feliz?

Claro que, morto, ele não sabe mais da sombra da oliveira ao meio-dia, e nunca mais fala quando quer falar, nem quando querem que fale. Agamémnon discursa às paredes de seu túmulo, coça da perna um verme, pensa, se é que um morto pode pensar, que lá fora ninguém é feliz, mesmo vivo.

John Deakin, 1952

A CARMELITA DESCALÇA E O COPO D'ÁGUA

Os antigos sentiram que a escrita tocava o invisível. Na realidade, a linguagem, ela própria invisível, mostra o que está fora da visão, nomeia o invisível. A escrita, que capta a linguagem, faz ver o invisível e se torna o lugar de encontro entre os vivos visíveis e os eternos invisíveis.

Herrenschmidt


Aos domingos aprecio ir ao Convento de São Lucas e aguardar, sozinho na nudez do locutório, que a voz misteriosa da carmelita descalça se anuncie do outro lado da cortina de organza escura. Amo essa conversa solitária com a mulher velada, pressinto os pés descalços dela no piso do convento, pés que eu beijaria, ombro que eu acariciaria, a língua na língua da carmelita descalça, a língua no musgo entre as coxas.

Acontece que, de repente, me intriga esse copo d’água, único adorno no locutório, mais que nunca esse copo d’água torna-se agora foco de minhas averiguações obsessivas. Não aprecio mais estar aqui no Convento de São Lucas – apenas o copo d’água me interessa – não desejo mais aguardar sozinho na nudez do locutório para conversar com a carmelita descalça – apenas o copo d’água me interessa.

Agora mereço um pequeno descanso e aproveito para filosofar:

– Quem sou eu, quem é esse copo d’água que entrou na minha vida? Porque ele tenta, de todas as maneiras, arruinar o amor que eu sinto pela carmelita descalça?

Hopper (1882-1967)

A PISCINA DA MANSÃO DOS HOOPERS

A janela do quarto onde durmo deita para a piscina da mansão dos Hoopers; deita a janela, também, para a imensa manhã, onde o vento não se ouve, passa pelas folhas das vinhas, talvez nem se perceba o vento e Homero, que não existe mais, quem sabe sinta essa aragem mais que nós. Sentado à janela, contemplo essa coisa nenhuma que é o quintal com laranjas lá fora.

Quantas vezes julguei ver a luz lá no beco e, nas ruas de pedra com sobrados altos, o que apenas vislumbro são virgens em flor à sombra de cellos de Brahms e, diante do copo de água, eu passo as horas a cismar. Acordo e pulo a janela do quarto, para observar a prosa serena dessa praia Brava – o céu definitivo sempre esteve aqui, entre as coisas naturais – e ali, no areal, finco o guarda-sol, medito que as cordas dos violoncelos em vibração cumprem o seu dever primitivo: soam!

O meu corpo adormece nessa praia, enquanto as folhas da palmeira pairam sombras no mar de gelo. Afasto-me da essência da sombra e, nessa cama improvisada sob o guarda-sol, penso que o imaterial rege o material e reconstrói o osso de Trakl e o jardim que Wittgenstein cuidou no mosteiro da Basiléia. Rente ao mar e sob o guarda-sol, desconsolado e anônimo, escrevo palavras para salvar o alfabeto das conchas; lavo-me em ar de tumba para tocar um inferno suspenso no pensamento. A chuva não perturba as linhas das marisqueiras que ondulam na praia Brava.

Retorno ao quarto que deita para a piscina da mansão dos Hoopers. O céu enfia-se pelos ouvidos, pelas narinas, pela boca e, estirado de novo aqui na cama do meu quarto absurdo, escuto a idéia de que sou pó e ao pó voltarei. Esvaziado de toda alegria, sou forçado a um contato com a brisa que afunda na fronte dos que andam à beira-mar. Escuto cismas da serpente corcunda que insiste cravar suas garras em minhas brânquias. Escuto a chuva que lava os telhados, mas agora, deitado na cama, o que é isso que esboça no inciput fervente um cacto difícil de definir?

A idéia de uma obrigação qualquer me desconcerta: ir ao banheiro escovar os dentes; tratar junto do açougueiro uma coisa que é pedir a carne para o bife; esperar na estação de trem a essa moça tão depressiva, que maquia defuntos para apaziguar os pensamentos de um dia. Às vezes durmo mal e sonho que bato no prato de lentilhas com o pano cheio d'água. É desde a mesma véspera do nada que me preocupo com as pedras que ardem, e o caso real de haver um mar pensativo, quando se dá, é insignificante, mas descerra a porta maciça, e a solidão repete-se, e eu desaprendo a sofrer.

Os meus hábitos são do silêncio, nunca dos deuses nem de Homero, que escutou que um mar é água sobre água que se move. A janela do quarto onde durmo continua deitada para a piscina aberta da mansão dos Hoopers, e a visibilidade de tudo que passa seca minha retina. E, agora, aqui, estou preso à mansão dos Hoopers, principalmente preso a esta mulher que mergulha sua nudez na piscina e verifica se a janela aberta é a do meu quarto.

Maiakovski (1893-1930)

A FLAUTA-VÉRTEBRA

(Prólogo)

A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.

Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.

Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.

Maiakóvski

Tradução: Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman

Greta Garbo (1905-1990)

GRETA GARBO NA CHUVA

Eu, sentado na poltrona de uma sala vazia, observo que a luz se foi ao sabor do vento. Um grande silêncio e as persianas. Escurece; recordo que no dia que passou houve alegrias numerosas, terraços, vime, rangidos, sonolência vivificante e, creiam, houve até Greta Garbo na chuva.

Como esquecer essa tarde em que a observo, sob aquelas árvores esguias, inteiramente molhada de chuva – ela, Greta Garbo – os cabelos escorridos sobre os lábios, a saia colada às coxas.

Ver Charya Nritya:

a sagrada dança do Nepal


http://www.youtube.com/watch?v=l2SIyNgfH

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Ver o blog Sexpedia:

é de dar água na boca


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