domingo, 25 de novembro de 2007

Magritte



Ver Hitchcock

Serre


Quino



Ver Buñuel e Jean Cocteau


Escutar Rostropovich
interpretando Bach - Suíte número 3

http://www.youtube.com/watch?v=Ud3BvW2MAj4&feature=related

Rita Hayworth


Espiando Rita Hayworth no banho
L’hydre-Univers tordant son corps écaillé d’astres.
Victor Hugo
Água morna de chuveiro na pele de Rita Hayworth. Com suavidade descerro as portas do box e a flagro ensaboando as clavículas, o ventre, os pés.
A nudez dela ondula sombras nos azulejos brancos. Vidros embaçados, o barulho da água atrás da cortina de plástico; as coisas essenciais, os reinos da chuva, incrustados fora da razão.
Aqui, ante Rita Hayworth, devo ser um servo, e servo reverente. Ela me chama, aproxima seus lábios dos meus e nos beijamos através do plástico transparente: dura apenas um instante.
Não esqueço nunca que eu tenho pelas banhistas de chuveiro uma predileção especial, ainda mais se essa banhista é Rita Hayworth.

E se, após o banho, ela cobrir o nu com uma toalha, ai dela, eu viro Calígula, o Terrível, ordeno a meus exércitos que arranquem a toalha enrolada em seu corpo.

Que a toalha suma!

E que reste límpida a nudez de Rita Hayworth, assim deitada na cama, em estado de óbvia distração.


Ver Jean Cocteau

http://www.youtube.com/watch?v=ktaDmv_MkjI

Ignez ferraz




Ver Jacques Tati

Ver Jacques Tati

Hopper


A piscina da mansão dos Hoopers


A janela do quarto onde durmo deita para a piscina da mansão dos Hoopers; deita a janela, também, para a imensa manhã, onde o vento não se ouve, passa pelas folhas das vinhas, talvez nem se perceba o vento e Homero, que não existe mais, quem sabe sinta essa aragem mais que nós. Sentado à janela, contemplo essa coisa nenhuma que é o quintal com laranjas lá fora.

Quantas vezes julguei ver a luz lá no beco e, nas ruas de pedra com sobrados altos, o que apenas vislumbro são virgens em flor à sombra de cellos de Brahms e, diante do copo de água, eu passo as horas a cismar. Acordo e pulo a janela do quarto, para observar a prosa serena dessa praia Brava – o céu definitivo sempre esteve aqui, entre as coisas naturais – e ali, no areal, finco o guarda-sol, medito que as cordas dos violoncelos em vibração cumprem o seu dever primitivo: soam!

O meu corpo adormece nessa praia, enquanto as folhas da palmeira pairam sombras no mar de gelo. Afasto-me da essência da sombra e, nessa cama improvisada sob o guarda-sol, penso que o imaterial rege o material e reconstrói o osso de Trakl e o jardim que Wittgenstein cuidou no mosteiro da Basiléia. Rente ao mar e sob o guarda-sol, desconsolado e anônimo, escrevo palavras para salvar o alfabeto das conchas; lavo-me em ar de tumba para tocar um inferno suspenso no pensamento. A chuva não perturba as linhas das marisqueiras que ondulam na praia Brava. Retorno ao quarto que deita para a piscina da mansão dos Hoopers.

O céu enfia-se pelos ouvidos, pelas narinas, pela boca e, estirado de novo aqui na cama do meu quarto absurdo, escuto a idéia de que sou pó e ao pó voltarei. Esvaziado de toda alegria, sou forçado a um contato com a brisa que afunda na fronte dos que andam à beira-mar. Escuto cismas da serpente corcunda que insiste cravar suas garras em minhas brânquias. Escuto a chuva que lava os telhados, mas agora, deitado na cama, o que é isso que esboça no inciput fervente um cacto difícil de definir?

A idéia de uma obrigação qualquer me desconcerta: ir ao banheiro escovar os dentes; tratar junto do açougueiro uma coisa que é pedir a carne para o bife; esperar na estação de trem a essa moça tão depressiva, que maquia defuntos para apaziguar os pensamentos de um dia. Às vezes durmo mal e sonho que bato no prato de lentilhas com o pano cheio d'água. É desde a mesma véspera do nada que me preocupo com as pedras que ardem, e o caso real de haver um mar pensativo, quando se dá, é insignificante, mas descerra a porta maciça, e a solidão repete-se, e eu desaprendo a sofrer.

Os meus hábitos são do silêncio, nunca dos deuses nem de Homero, que escutou que um mar é água sobre água que se move. A janela do quarto onde durmo continua deitada para a piscina aberta da mansão dos Hoopers, e a visibilidade de tudo que passa seca minha retina. E, agora, aqui, estou preso à mansão dos Hoopers, principalmente preso a esta mulher que mergulha sua nudez na piscina e verifica se a janela aberta é a do meu quarto.

Botero


As janelas do vigário

Eu, quem sou? Para citar Amiel, “sou apenas uma frágil elegia”.

Tudo pesa sobre a casca da cigarra de meu agônico destino. Para apaziguar a opressão, passo a tarde, de binóculo, espiando os brincos, ancas, pernas de mulheres que entram e saem de lojas, farmácias, bares e acabo de flagrar o Vigário que, também de binóculo, passa os olhos nos brincos, ancas, pernas de mulheres que entram e saem de lojas, farmácias, bares.

De uma das janelas o Vigário também espia as moças que sentam de pernas abertas no banco da praça da Matriz.

Cartier Bresson



Senhorita Chuva


A propósito de algumas caligrafias de Georgia O’Keeffe, tive agora um pressentimento do pó que sou. Eu quis me fazer monja no convento das Carmelitas e tive que aprender muito sobre jarros e hidráulica. Jarros valem o mesmo que nada e a retina onde se molham, menos ainda. Uma sereia, tornando a escutar aquelas ondas de grosso mar sob a embarcação, encontraria nela Ulisses amarrado ao mastro e remadores com cera nos ouvidos. O filósofo naturalista colheria da cena elementos para desvelar a loucura. Um que seja furioso bate a cabeça no muro e descobre que mais vale andar pela varanda do que fincar no peito um arpão, e observa que as linhas da chuva que se espalham contra a vidraça também escreveram, em grego aquático, pelas calhas, a ode que ninguém pode ler.

Nesse ano entrei para o Clube dos Vencidos da Vida. Nos encontros dominicais é costume bater o martelo e vociferar: “Os olhos vão ver o paraíso, sim, mas serão olhos apodrecidos”.

Uma noite, como saísse do conservatório – fui escutar um quinteto de Brahms – encontrei com a senhorita Chuva e fomos tomar chá. Imagine: chá na boca de chuva da senhorita Chuva. Era aquática figura de ninfa: os cabelos, os olhos de água. Já foi possuída nos terrenos baldios: os brutos todos penetraram as ancas da senhorita Chuva, chuparam laranjas em seus flancos, e um pouco daquele ar distante que tinha, perdeu-se. Ninguém mais viu sua inocência exilada.

Ao chá conversamos sobre como assassinar aqueles que a violaram e, pouco depois, de hidráulica aplicada, o que me assombrou bastante; o usual nos encontros era conversarmos sobre louças, abismos.

Depois do encontro com Senhorita Chuva, uma lufada de vento me ergue do chão e sobrevôo os casarios com pomares e um coro de anjos, com mais de cem asas, grita que os imperadores antigos não encontraram o alimento que procuravam e, só por isso, morreram.

Água da chuva nos olhos mortos, senhorita Chuva.

Cartier Bresson


A praia dos Insulados


No extremo sul da praia que apelidamos de a praia dos Insulados, imponente, ele, o leão de vento acorda e vem com a rapidez do raio até onde estou.

Corro desesperado até à árvore mais próxima. Subo na carnaúba, o leão de vento finca as garras de vento no tronco da árvore e, quando vai me destroçar com os dentes de vento afiados, eu acordo com o despertador marcando 7 horas em ponto.

Levanto, mergulho sob as águas do chuveiro, contemplo a íbis nevando no outro mundo enquanto faço a barba com Gillette G2; essas águas do chuveiro são contínuos choros dolorosos de uma deusa que teve o pescoço decepado.

Ver Toma Baqueni
Jacques Tati

Ver Jacques Tati

http://www.youtube.com/watch?v=ug4JZ4FoRIA&feature=related


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