sábado, 9 de agosto de 2008

As barcas ao pairo. Recolho do céu do cronista clássico aquilo que o inunda de luz --- o samudrá --- depois estendo a toalha na areia fina da praia de Pinheiros-bravos. O guarda-sol é branco e Lucana me disse que chegaria às 8 horas. Percebo que ela se aproxima com um cesto de verga ao ombro, ondina que é, acena para mim que ardo com sede embaixo do guarda-sol branco e some, com timidez de virgem, a pele de seu fogo no mar. A verdadeira linguagem das preces é serva reverente do que no céu é música hidráulica. Com seu cacho de vide, suas algas, seu alumbramento, Lucana sai das águas e as esquece na fria areia. Seu corpo junto ao de K., agora, é uma delicada cena das Bodas de Canaã. O Vazio aparente das ondas – salgadas brancas espumas –, espumas que, segundo a óptica de Lucana, imitam a neve dos telhados de Kyoto. K. e Lucana adormecem e sonham que Buddah, quase invisível sob a Árvore no parque de Sarnath, indica com os olhos a pequena caixa negra. Nela uma pedra pura --- lapidem esse aquam fontis vivi --- pedra que é uma fonte de água viva.

Nenhum comentário: