
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
CEMITÉRIO DO CARIRI
O enterrado, três dias depois, sem ar,
igual peixe com cinco lepras, o enterrado
do cemitério do Cariri é perito
em acordar sem grandes consolos e vigia,
do fundo do coração que já não possui,
vigia que luz angelical é esta que amadurece
nos olhos dos ainda vivos, dos que, mesmo vivos,
parecem enterrados, sem vento
despedaçando nas cabeças,
que levam como cavalos pesados, pesados de não ser
o que sonharam, e o que sonharam era tão pouco,
se comparado com o que ardia na sombra e, às vezes,
os vivos chamavam de transparência, se já não fosse
mulher mergulhando no oceano para esquecer.
O enterrado, três dias depois, sem ar,
igual peixe com cinco lepras, o enterrado
do cemitério do Cariri é perito
em acordar sem grandes consolos e vigia,
do fundo do coração que já não possui,
vigia que luz angelical é esta que amadurece
nos olhos dos ainda vivos, dos que, mesmo vivos,
parecem enterrados, sem vento
despedaçando nas cabeças,
que levam como cavalos pesados, pesados de não ser
o que sonharam, e o que sonharam era tão pouco,
se comparado com o que ardia na sombra e, às vezes,
os vivos chamavam de transparência, se já não fosse
mulher mergulhando no oceano para esquecer.
O FILÓSOFO MO TSI
Enquanto o filósofo Mo tsi tenta fisgar
as carpas se espelhando no vento,
o milagre rabisca qualquer coisa no caderno de brisa.
Súbito uma carpa carregada pelo vento
entra pela única porta do Templo de Shirakawa.
Os olhos do filósofo, assombrados, fogem na neblina
e Mo tsi, cego, procura o caderno de brisa
embaixo do rio, do córrego, do riacho, do arroio,
na copa das árvores, debaixo da pedra,
nos bares, nos bordéis, nos hospitais,
nas barcas, nos copos de conhaque,
na infância, ah, e na infância encontra
o caderno de brisa com os dois olhos de Mo tsi
desenhados pelo milagre.
Enquanto o filósofo Mo tsi tenta fisgar
as carpas se espelhando no vento,
o milagre rabisca qualquer coisa no caderno de brisa.
Súbito uma carpa carregada pelo vento
entra pela única porta do Templo de Shirakawa.
Os olhos do filósofo, assombrados, fogem na neblina
e Mo tsi, cego, procura o caderno de brisa
embaixo do rio, do córrego, do riacho, do arroio,
na copa das árvores, debaixo da pedra,
nos bares, nos bordéis, nos hospitais,
nas barcas, nos copos de conhaque,
na infância, ah, e na infância encontra
o caderno de brisa com os dois olhos de Mo tsi
desenhados pelo milagre.
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