
quinta-feira, 23 de abril de 2009
da aparição
de um disco voador
http://www.youtube.com/watch?v=MVqAGOh_nPs&feature=related
A BANHISTA
A pálpebra da banhista
encostou na pele do jarro,
porque fazia 40 graus à sombra do cipreste.
O real, o um do jarro,
é antecedido pela palavra jarro,
pelo que em Deus já é jarro,
mesmo sem jarro ser ainda.
Enquanto jarro-coisa, o jarro é irreal,
e a pálpebra da banhista
continua encostada na pele do jarro.
Agora, para que respire,
o inexistente jarro-coisa
converte-se no uso do jarro-palavra,
onde a banhista encosta a pálpebra.
Os Irmãos Lumière
Ver Merzak Allouache.
http://www.youtube.com/watch?v=BlTHzXywvDA
Ver David Lynch.
http://www.youtube.com/watch?v=2zZ7X-MoeCM&feature=related
Ver Abbas Kiarostami.
http://www.youtube.com/watch?v=on7LRM6ehPc&feature=related
Ver Cédric Klapisch.
http://www.youtube.com/watch?v=-4U2P9c4TLc&feature=related
Ver Youssef Chahine.
http://www.youtube.com/watch?v=kX_gqLB6dME&feature=related
Ver Gaston Kaboré.
http://br.youtube.com/watch?v=K-VU5Fb6TOM&feature=related
Ver Claude Lelouch.
http://br.youtube.com/watch?v=iQZGtWPWb4U&feature=related
Ver Peter Greenaway.
http://br.youtube.com/watch?v=VJipYEaTiAU&feature=related
Ver Nadine Trintignant.
http://br.youtube.com/watch?v=wdM00OAfbLE&feature=related
Ver Jaco von Dormael.
http://br.youtube.com/watch?v=QZzO4fcn3cw&feature=related
Ver Andrei Konchalovsky.
http://br.youtube.com/watch?v=y-yiUT-UGxI&feature=related
Ver Alain Corneau.
http://br.youtube.com/watch?v=8MOJMviIIgs&feature=related
Ver Jacques Rivetti.
http://br.youtube.com/watch?v=n1eEMkjuAh4&feature=related
Ver Claude Miller.
http://br.youtube.com/watch?v=lt54rMCFg40&feature=related
Ver Raymon Depardon.
http://br.youtube.com/watch?v=GjOzuTix3Fo&feature=related
Ver Wim Wenders.
http://br.youtube.com/watch?v=VsL7lXTvEWw&feature=related
Há um pensamento do filósofo alemão Schopenhauer, que li em "O Mundo como Vontade e Representação", que reza assim:
O ponto em que a Coisa-em-si entra mais imediatamente no fenômeno é aquele em que a consciência ilumina a Vontade.
A Vontade é, para Schopenhaeur, irracional. A Vontade, no fundo, não sabe o que quer. E, para educá-la, só há uma saída: focarmos as coisas que nos cercam (ou as coisas que imaginamos) com o Vazio da contemplação tranqüila, sem intenção, desapegada.
Segundo Kenzo Awa, mestre do Kyudô (Caminho do Arco), se quisermos acertar o alvo, devemos proceder assim: “Na máxima tensão, sem intenção”.
Algo dispara a flecha, Algo acerta o alvo.
Algo: outro nome para o Deus, para a quintessência.
Mas também Algo
diz pára de ressentimento
diz pára de medo
diz pára de mentir
diz pára de sofrer
diz pára de desamor
diz pára de pobreza
O Eu, que só será Eu se for um Vazio reverente, se torna o claro espelho do objeto. Wu wei: ação na não ação. Noutras palavras, o Eu deixa fluir, reverente, o Algo que o rege no íntimo; o Eu não se intromete, deixa a onda jorrar, a música ser música.
Vazio (Capítulo 1 do Tao): “Não sendo, podemos contemplar sua essência”.
Objeto (Capítulo 1 do Tao): Sendo, apenas vemos sua aparência”.
O Deus, segundo o Evangelho são João, “é Espírito”. E, sabemos, o Espírito sopra onde quer.
Se me permitem um exemplo: Na máxima tensão, o Eu profundo de cada um de nós contempla, sem intenção, a seguinte cena prosaica: um bule que verte chá fervente na toalha de linho. A Coisa-em-si (que é libérrima e irracional por natureza) é que retém a potência profunda do que está acontecendo com este bule que verte chá fervente na toalha de linho. Se o Eu se intrometer nesta imagem do bule que verte chá fervente na toalha de linho, o Eu só terá a fantasia, a farsa, e se transformará num bicho peludo de longas patas, mais conhecido como ego. Por outro lado, se o Eu deixar fluir a Coisa-em-si deste bule que verte chá fervente na toalha de linho, aí o Eu terá a presença do Algo, do Deus que, respeitado em sua ancestralidade, virá à tona e revelará ao Eu todo o Seu Mysterium.
E sendo Mysterium, é improviso, é Vita Nova, é Algo, é o Deus, é paraíso, é jazz do coração.
Nunca é demais recordar a etimologia do vocábulo Deus: vem do sânscrito –, onde é grafado D'jeus e significa lua clara no céu: mente silenciosa, sem sonhar.
De onde se conclui que o Deus, tendo forma lunar, é o feminino.
O Deus, o Algo, é luz, é consciência.
A quem o Deus serve, a quem o Algo serve? A todo Eu que tiver consciência do Deus, do Algo.
Quando pronuncio a palavra feminino, não me refiro à mulher, mas ao Ser, que tanto pode ser macho ou fêmea.
Há homens que são mais femininos que as mulheres.
O cano do canhão é o pênis masculino; os edifícios pontiagudos são pênis masculinos; o punhal é o pênis masculino.
A árvore é feminina; a pérola é feminina; o vento é feminino.
A Coisa-em-si: aquilo que independe do espaço e do tempo.
A Coisa-em-si independe da causa e do efeito.
Segundo Platão, uma Idéia é aquilo que sempre é, mas nunca vem a ser, nem deixa de ser.
Idéia: objetividade imediata da Coisa-em-si.
Para Schopenhauer, a Coisa-em-si é pulsão vital (a Trieb freudiana: força vital). Pulsão como discernimento vital? Ainda mais: pulsão como discernimento vital do discernimento vital.
Pulsão (a partir de um aforismo de Lacan): objeto jamais fixável de uma vez por todas.
Fixar o que não pode ser fixado, isto é função da arte que cria a consciência que ilumina a Vontade.
Para Schopenhauer a maior das artes é a música. Ele a menciona em "O Mundo como Vontade e Representação": se tudo findasse, ainda não findaria a música.
O texto acima, inédito, é um fragmento do livro O cacto e o angorá (o aqui e o agora) – A arte vazia do arqueiro de palavras, de Fernando José Karl.