domingo, 3 de agosto de 2008
CASA DE MENANDRO
Logo se espalha um suave vento
e as cortinas começam a dançar.
Alberto Blanco
A serenidade de um verso latino.
Na casa de Menandro angst morre nas pedras.
Eu escuto orvalho no olho do peixe
que paira o aquário da casa antiga,
casa antiga que os vendavais circundam.
Uma ramagem de sutis idílios
faz sombra na parede branca da casa de Menandro.
O sol marinho dá nas calhas e nas venezianas.
Menandro desce os degraus de pedras soltas,
nos galhos do salgueiro vai deixando
blusa, calça, sapatos, chapéu, cachimbo.
Logo se espalha um suave vento
e as cortinas começam a dançar.
Alberto Blanco
A serenidade de um verso latino.
Na casa de Menandro angst morre nas pedras.
Eu escuto orvalho no olho do peixe
que paira o aquário da casa antiga,
casa antiga que os vendavais circundam.
Uma ramagem de sutis idílios
faz sombra na parede branca da casa de Menandro.
O sol marinho dá nas calhas e nas venezianas.
Menandro desce os degraus de pedras soltas,
nos galhos do salgueiro vai deixando
blusa, calça, sapatos, chapéu, cachimbo.
DAR BANHO NA MOSCA
(Oito milhões são as divindades do Shinto,
o mais leve dos cultos)
Por que não perfumar a mosca
com incenso de musgo?
Esse frescor de água na garganta
nunca foi para a mosca.
Escuta: a mosca quer adágio d'água
e ventilador nas noites areentas.
Mosca rajada pelo Shinto.
No pátio espanhol compartilhamos
--- eu e a mosca ---
aragens, jardins, terraços.
Fonte oca de alaúde,
a mosca no mar de ondas.
(Oito milhões são as divindades do Shinto,
o mais leve dos cultos)
Por que não perfumar a mosca
com incenso de musgo?
Esse frescor de água na garganta
nunca foi para a mosca.
Escuta: a mosca quer adágio d'água
e ventilador nas noites areentas.
Mosca rajada pelo Shinto.
No pátio espanhol compartilhamos
--- eu e a mosca ---
aragens, jardins, terraços.
Fonte oca de alaúde,
a mosca no mar de ondas.
DO LIVRO DE HORAS DE SÓROR DOLOROSA
SANTA CLARA DE ASSIS
Eu não cultivo
pássaros azulados em gaiolas de ouro:
rebebo, sim, o encharcar dos brejos,
aí se me acordo, suspendo uma folhagem.
Sob o chuvoso arco do mosteiro
se deu o que se deu --- o isto é! ---
avanço pela escadaria de pedra para espiar
parada, imersa na luz, Santa Clara de Assis.
Eu respiro
o sono tempestuoso das lianas durante o vendaval:
eu sou o ferrão escuro do escorpião eu sou
a cantaria barroca e o sino:
queimo com as palavras ferro e brasa
a pele translúcida dos anjos.
SANTA CLARA DE ASSIS
Eu não cultivo
pássaros azulados em gaiolas de ouro:
rebebo, sim, o encharcar dos brejos,
aí se me acordo, suspendo uma folhagem.
Sob o chuvoso arco do mosteiro
se deu o que se deu --- o isto é! ---
avanço pela escadaria de pedra para espiar
parada, imersa na luz, Santa Clara de Assis.
Eu respiro
o sono tempestuoso das lianas durante o vendaval:
eu sou o ferrão escuro do escorpião eu sou
a cantaria barroca e o sino:
queimo com as palavras ferro e brasa
a pele translúcida dos anjos.
A DEFORMAÇÃO ORGANIZADA
DA LÍNGUA COMUM
PELA LÍNGUA POÉTICA
Um riacho de serpentes no cérebro, um vaso de porcelana com verbenas. O estranhamento se há cascalho: aqui as palavras têm plantas. Fisgo do cristal o inaudível, alago a música da mente e, à sombra do salmão ciumento, me recolho. Imagino que sou neblina de Issa, neblina vivificante, isca sou de instrumentos arcaicos que crescem em plantações protegidas por cercas de bambu: tarolas, ravanastrões, sambucas, arquialaúdes, tchés, turlurettes, magrephas, pandoras, hidraules.
Assinar:
Postagens (Atom)