sábado, 21 de novembro de 2009

Victor Borlandelli, 1965

Chovam capinzais e a Cassiopéia na tua frase!

Chovam antiqüíssimas estrelas no teu gelo!

Esguichos de unicórnio e quintal de cinamomos,

meu amor, minha concha, meu osso de Trakl.

Coroada de branca espuma a brisa, barcas o mar,

caixa-de-música o ar e água pura a fonte,

enquanto zaranza o vendaval e o quarto se acalma,

o crisantempo de Georgia O’Keeffe se alucina.

E que te orvalhem no jardim dos camaleões.

Durma até, durma, que eu te ressuscito.

E ao adormeceres comigo, sem que me toques,

possa a minha árvore branca

oxigenar a pura fonte no pedrento,

meu amor, meu labirinto incrustado de cornucópias.

Não custa nada acreditar




Contam os místicos que traz sorte

encontrar um trevo de quatro folhas.

Cartier-Bresson (1908-2004)

1.

você é dente de sabre
eu não, eu sou abre-te sésamo
o meu pecado mora ao lado
o meu pecado é passar a língua
ali onde plantas e peixes
sabem mais que santos
ali contemplo uma pequena chuva

2.

este poema é pra ser
um peixe de escamas de prata
estirado na cama vazia
um peixe sou na cama fria
se não vens
nessa noite chuvosa
sou
um
peixe
que
apodrece
com
uma pérola entre os dentes

3.

pedi água para beber
à tua bola de cristal
à tua pele pedi
que respingasse
na pele que lavo
absorto
para sempre absorto
nos mil dias de orvalho
que guardas entre as coxas