
André Kertész
Atenas
1950
Em órbitas excitadas a siriema vive,
sopro e olhos, se consome na trama da neblina.
Bêbeda vem a seta entre árvores e a assassina,
desterrando-a de pedras lisas e galhos,
coroando-a com esta inútil sombra
que é fim e bruta vertigem.
Jaz a siriema, luz esquálida na curva do rio,
com o pequeno pescoço varado pela seta.
A siriema reside agora nesta região
de amor sombrio e ramadas que ondulam,
nesta conjuração de novas esferas,
que não a ressuscitam ou ressuscitam apenas
a palavra siriema, envolta em mínima música
e líquidas possibilidades elementais.
Wittgenstein passa a mão no vento
depois jorra cristalinos
em teus cabelos estende sobre cercas e arbustos
Aldebarã
lume entre lumes
Deitado na folha longa do coqueiro
Wittgenstein retalha o vento com a peixeira
olha para o solo crestado três metros o separam
das rosas de maio
se ele caísse da folha cairia nos braços do mar