quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Em busca do tempo perdido



André Kertész

Atenas

1950

Em busca do tempo perdido



André Kertész


Brooklin

1947
Siriema.

Em órbitas excitadas a siriema vive,

sopro e olhos, se consome na trama da neblina.

Bêbeda vem a seta entre árvores e a assassina,

desterrando-a de pedras lisas e galhos,

coroando-a com esta inútil sombra

que é fim e bruta vertigem.

Jaz a siriema, luz esquálida na curva do rio,

com o pequeno pescoço varado pela seta.

A siriema reside agora nesta região

de amor sombrio e ramadas que ondulam,

nesta conjuração de novas esferas,

que não a ressuscitam ou ressuscitam apenas

a palavra siriema, envolta em mínima música

e líquidas possibilidades elementais.

André Kertész, 1933

As coisas tentam ser

o que em Deus é e desistem.

As coisas desistem de ser:

homem, Órion, ventania.

Deus, mais linho que o linho,

desnuda-se da ilusão,

esculpe além da pedra

ode serena para Gregorovius.

Em busca do tempo perdido



Frederick H. Evans


Winchester Cathedral: The Nave, West

1883

Edward Dimsdale, 1997

Deitado na folha longa do coqueiro

Wittgenstein passa a mão no vento

depois jorra cristalinos

em teus cabelos estende sobre cercas e arbustos

Aldebarã

lume entre lumes

Deitado na folha longa do coqueiro

Wittgenstein retalha o vento com a peixeira

olha para o solo crestado três metros o separam

das rosas de maio

se ele caísse da folha cairia nos braços do mar

Meus filhos: Matheus e Shânkara.

Rir é o melhor

remédio

Zé Oliveira


Já está na hora de mudares de penteado!