terça-feira, 16 de abril de 2013

Matisse (1869-1974)


A hora em que Priscila sente o coração bater na palma de sua mão: por suave, coração de organza a levar do ar os quebrantos e todo o fel: de resina perfumada sua voz vinda de antes do início do mundo: voz a arder em todos os cômodos da casa onde habita: Priscila é céu emendado a céu: não acaba nunca sua presença amorosa que chove nas plantas, nas pedras, nos animais.

Kasimir Malevich


"A VIDA, QUANDO OLHADA DE FRENTE, DÁ
VONTADE DE CHORAR".


Nelson Rodrigues


600 milhões de pessoas no mundo inteiro vivem em favelas nos arredores das grandes cidades.


No mundo, mais de 300.000 crianças, meninos e meninas, são soldados. Muitos deles têm menos de 10 anos.


Mais de um bilhão de pessoas não dispõe de decentes condições de vida.

Numa catástrofe natural, o número de mortos em países em desenvolvimento é 47 vezes

maior do que em países desenvolvidos.

Metade da humanidade vive com menos de 2 dólares por dia.

1 em cada 5 crianças não vai à escola. Um terço da superfície terrestre sofre de desertificação.

A indústria alimentar gasta 40 mil milhões de dólares por ano em publicidade.


A água insalubre provoca 5 milhões de morte por ano.


A espessura média da camada do gelo ártico passou de 3,2 m na década de 1960 para 1,8 m na década de 1990.


As emissões de CO2 produzidas pelas atividades humanas são responsáveis por mais de 60% do aumento do efeito estufa.


70% da água doce são usados para irrigar a terra cultivada e 80 países, ou seja, 40% da população mundial, sofrem de grave escassez de água.


A população mundial aumenta mais de um milhão de pessoas por semana.

Por ano 500.000 crianças ficam cegas por falta de vitamina A.


Para fabricar um computador são necessárias 8 a 14 toneladas de matérias primas não recicláveis.


40 milhões de pessoas morrem de fome por ano num mundo que produz 356 quilos de cereais por pessoa.


Um em cada cinco adultos no mundo não sabe ler ou escrever. Desses 90% vivem em países em desenvolvimento e dois terços são mulheres.

A quantidade de petróleo consumida em 6 semanas, metade da qual é usada em transporte, teria durado um ano inteiro em 1950.

2 espécies desaparecem por semana no mundo inteiro.


40% da população mundial não têm eletricidade.

Uma em cada três crianças com menos de cinco anos sofre de subnutrição.

No século passado a população aumentou 3 vezes, o consumo de água no mundo aumentou 6 vezes.


20% das pessoas que vivem nos países mais ricos consomem 60% da produção de energia comercializada no planeta.


90% da população mundial nunca fizeram uma chamada telefônica.


O total de despesa militar no mundo atinge 794 bilhões de dólares e a ajuda pública ao

desenvolvimento totaliza 58 bilhões de dólares.

Em busca do teempo perdido


Hill & Adamson

Newhaven


1845

Miran



Escutar toda a obra para violino
de Johann Sebastian Bach (1685-1750)




CURIOSIDADES



Se você ficar gritando por 8 anos, 7 meses e cinco dias, terá produzido energia sonora suficiente para aquecer uma xícara de café.

O coração humano produz pressão suficiente para jorrar o sangue para fora do corpo a uma distância de 10 metros.

O orgasmo de um porco dura 30 minutos.

Uma barata pode sobreviver 9 dias sem sua cabeça até morrer de fome.
Bater a sua cabeça contra a parede continuamente gasta em média 150 calorias por hora.

O louva-deus macho não pode copular enquanto a sua cabeça estiver conectada ao corpo. A fêmea inicia o ato sexual arrancando-lhe a cabeça.

A pulga pode pular até 350 vezes o comprimento do próprio corpo. É como se um homem pulasse a distância de um campo de futebol.

O bagre tem mais de 27 000 papilas gustativas.
Alguns leões se acasalam até 50 vezes em um dia.

As borboletas sentem o gosto com os pés.
O músculo mais forte do corpo é a língua.

Elefantes são os únicos animais que não conseguem pular.

A urina dos gatos brilha quando exposta à luz negra.

O olho de um avestruz é maior do que o seu cérebro.
Estrelas-do-mar não têm cérebros.

Ursos polares são canhotos.
Seres humanos e golfinhos são as únicas espécies que fazem sexo por prazer.


Shânkara, minha filha


Shânkara,
de tanto olhar para nada,
ficou com os olhos de fada.

Em busca do tempo perdido


Gustave Le Gray

Musée des Beaux-Arts, Le Havre

1856

Quino


Édouard Boubat, 1950


Se não se escutam as folhas do arvoredo, Lucana gasta os olhos numa página avulsa do poeta Almafuerte: yo soy un palmar plantado sobre cal e pedregulho. Os vocábulos lidos na frase anterior já estão mortos, derrotados, e unicamente a retina do leitor pode trazê-los à vida com um sopro. Se o vocábulo é sopro e o sopro é vida, sopramos em yo, sopramos em soy, sopramos em un, sopramos em palmar, sopramos em plantado, sopramos em sobre, sopramos em cal, sopramos em e, sopramos em pedregulho. Lucana confessa ao palmar plantado: “Eu sou uma daquelas víboras descascadas junto à fonte fria. Com pinças curvas eu arranco o cérebro dos fariseus – gruta com lesmas – pelas fossas nasais. Eu, com um garfo de ouro, faço um talho na cara da prosódia sonolenta e, debaixo do chuveiro, tento captar, apesar da água torrente, o sentido das palavras em Fernando Pessoa: ‘Atinjo a força de palavras, não para realizar a obra que eu nunca poderia realizar, mas ao menos para dizer com simplicidade por que razões não a realizei’. No espelho, enquanto me enxugo, verifico que na alma continuo sendo uma daquelas gueixas com neve no negro cabelo. Escuto a balada de Narayama e, com a colherinha de açúcar, faço nevar no espírito do chá”.

Ruth Orkin, 1905


Em lugar de olhos, dois nuncas. A noite é palavra unida à noite essencial. Um diamante iça, em lugar da morte, e da cisterna sombria acordo alado: sem amada, capinzal, mãe, pedra ou labirinto. Em lugar de respirar, a música me vela. A eternidade é o silêncio das tigelas de arroz. Em lugar de estar vivo eu sou um canto, enlouquecido por discordar do roteiro. É desconcertante morrer sem acariciar o pomo dourado da própria voz, e a lenda da pele, que acende com o toque dos dedos. É sempre absurdo não ter direito a um nome, a um quintal com pequenos pássaros intensos. Os erros são todos meus. A luz é toda tua. Quando eu não existir mais, eu também virei recolher os domingos que não passei à beira-mar.

Josephine Sacabo, 1920



MEDITAÇÃO DO CALIFA OMAR
SOBRE ALEXANDRIA (640 d.C.)


Com seu periscópio de concha o califa Omar
perscruta a baía de las Gavenas,
em Alexandria.

O caminho do poeta não é o do silêncio,
mas o da luxúria.

As ondas nunca ociosas na baía de las Gavenas.

O califa Omar, neste ano de 640 d.C.,
escreve numa das paredes do Palácio Real
que o princípio de toda

poesia

é suprimir masmorras,
leis da razão: na pedra gasta infiltrar a phantasia:
e nos conduzir ao caos originário.


Em busca do tempo perdido



A.R. Dresser (Bexley Heath, Kent)

Nettoyage
[Photo-Club de Paris / 1894, Pl. LI]

1894

Karl Baden, 1982



Eu, a protetora da palavra de Oxum, súbito adivinho que a frase-brisa virá: sete ervas, sete águas. Oro o conjuro do templo de pedra pura, molho na retina a imagem inconclusa de um cacto sem saída, mas aguado na retina. Angorá nos envolve: imagem-angorá traduzida para objeto. Nos olhos do angorá a luz vazando para o íntimo silêncio.

O paraíso é uma gravura chinesa cercada de peixes miúdos, transparentes. Contra as nuvens oníricas, imortais eruditos do folclore chinês dão as boas-vindas a um recém-chegado ao domínio celeste: este solo de oboé do século II.

O silêncio nunca dorme.

Sôin, à sombra do Monte Yoshino, observa e ah! o gafanhoto pula – aroma fosforescente cintila um instante. Tão compenetrado Sôin, não faz outra coisa durante o dia.

Neve em Kyoto: o pinheiro vergado de nuvens. O grou, em seu galho, avista o ombro de Bashô. Ombro vira galho. Neva na neve: Bashô vergado de neve. A neve, sua brancura, cai no grou e no ombro de Bashô.

No quintal de uma casa japonesa, Onitsura se esforça para encontrar a verdade. Dez anos procurou as nuvens que se molham no fundo do rio, antes que as trutas saltem. Quando desistiu, Onitsura foi ao horto e ali se iluminou ao veras folhas de bambu: peso do sol as inclinava às águas do chão. Noturno para a quietude do pássaro pisando lago seco próximo de folhas. Noite: cabelos molham a luz suspensa no lago.

Buson escutou na Casa de Chá do Luar de Agosto, que somente as obras sopradas pelo espírito são boas. Com shi-i (visão própria), Buson aprendeu que na maré vazante águas flutuam conchas sem medo.

Com o leque branco, Hokushi abana carpas no lago abafado. Alma de Hokushi: o leque branco.

E se houver jardim de sopros no oco da estrela alfa de touro? Se pequeno mosteiro com pomar houver na constelação boreal de Cassiopéia? E se nada disso houver, que Houyhnhnms saiba imaginá-los.

A imagem é a respiração daquele que é o Estranhíssimo.

A jarra de Heidegger vista da barca Nautikkon: obra clara psicografada pelo que na água tem sede. A jarra dormindo, raro espécime, no teu pulmão. Porém tão de longe vinha a luz pelos varais, que eu só podia segredar: o oco da jarra não se faz, o oco da jarra acontece.

Oco da jarra: a existência do Vazio no centro do real.



Pedra escrita



 
NOÇÕES DE GRAMÁTICA
(Origo et fons)

Essa frase tem contém dois verbos.
Essa frase tem repolho seis palavras.
Essa não é uma completa.
Essa também.



Milenko Kosanovic


George Seeley, 1900


A BANHISTA

A pálpebra da banhista
encostou na pele do jarro,
porque fazia 40 graus à sombra do cipreste.

O real, o um do jarro,
é antecedido pela palavra jarro,
pelo que em Deus já é jarro,
mesmo sem jarro ser ainda.

Enquanto jarro-coisa, o jarro é irreal,
e a pálpebra da banhista
continua encostada na pele do jarro.

Agora, para que respire,
o inexistente jarro-coisa
converte-se no uso do jarro-palavra,
onde a banhista encosta a pálpebra.



Minha amiga,
a palavra a que me refiro não é a palavra em estado de dicionário; a palavra a que me refiro, com reverência, é aquela palavra anterior ao mundo; é a palavra que o primeiro Homem (ou Algo) pronunciou para criar o mundo.

Se pronunciarmos a palavra céu por nós mesmos, o céu morre; contudo, se escutarmos o céu que Algo pronuncia no escuro, é bem verdade que um céu acaba de nascer em nós.

A palavra purifica, clareia, inaugura um mundo novo nisto que convencionaram chamar de "alma".

A palavra é a casa da alma.

A palavra da alma só é desprezada porque ela tem uma pequena aparência.

Quem sabe, depois de mortos, apenas nos reste criar o paraíso com as palavras: aqui a torrente de uma árvore; ali a barca de um vento; lá um adágio perfuma as veias.

Bom é pressentir isto de maneira profunda e não querer mais o mundo, mas aquele outro mundo onde se possa escutar a palavra e, surpresa, a palavra luz é uma luz mesmo."

Karl,
um animal impossível do espírito