quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Anônimo, 1965



Um pequeno sopro o que somos: duramos o que dura uma chuva nas venezianas: vemos a barca molhada de mar: almoçamos peixe ou carne: sorvemos do copo de vidro a água cristalina: só temos incertezas em nosso coração que já parou de bater há mil anos. Assim, se estamos mortos para sempre nesse paraíso bacana, e como não temos nada o que fazer, aproveitaremos os minutos para regar com doçura o pequeno sopro que somos, o que em nós dura uma chuva nas venezianas e respiraremos, mesmo sem nariz, o vento perfumado deste amor que nunca mais vai morrer.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Em busca do tempo perdido


James Bashford, 1940
Cables and roadbed of the collapsed Tacoma Narrows Bridge with men walking on midspan.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Milenko Kosanovic

J. T. Armburst, sem data

Sem palavras

Matisse (1869-1954)



Ô ressurreição, dê água a meus ossos, me livre da aboiz de achar que eu sei tudo. Sou bossa de corisco, silêncio de adro, diamante que não, que sim. Ô ressurreição, dê arejos às trevas, me livre da falta de doçura, do vício de não escutar as trepadeiras trêmulas no aljibe. Tudo volta ao silêncio. Nunca estive entre as folhas da abanga. Nunca me chamaram de Beechmann. Ô ressurreição, que o que agora vislumbro não se perca, não se perca. E alguma coisa disso tudo seja meu: o linho da mortalha dos anjos, a xícara branca, o sorriso dos Reis, os passos no desconhecido, as delícias, os cinamomos, os vasos cilíndricos de barro, e mais tudo o que, por distraído, esqueci.




Mozart (1756-1791), numa pintura de Greuze, em 1763.



Escutar Ave Rerum Corpus,

de Mozart

http://www.youtube.com/watch?v=6KUDs8KJc_c&feature=related


Nada pode ser mais suave.



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010



Ver o projeto KOKOKAKA

no blog de Ana Peluso

http://anapeluso.tumblr.com/



Pollock (1912-1956)



Eu sou uma criança incorrigível: não há mais saída pra mim.

Eu creio em cavalo azul que respira música pelas narinas.

Sou anacrônico, talvez; eu creio em mulheres de vento que dançam tango rente às águas e mergulham nas águas pra colher anêmonas no fundo do mar.

É óbvio que a poesia é algo pra depois da morte física. Somos urdidos com milhões de fótons. Fóton: unidade de energia luminosa: a menor partícula possível da matéria.

Não é possível ver um fóton a olho nu; então estamos falando do invisível, que é um excesso de não ser.

O que em nós é invisível ressuscita: a música é invisível; a voz é invisível; o perfume é invisível.

A palavra, que guarda em si resquícios de um hálito, é igualmente invisível.

Niels Bohr diz textualmente: "Num pingo que faço, com a caneta, nessa folha de papel, há 10 milhões de átomos e 100 milhões de fótons".

Eu creio num fogo nas caves do pulmão; eu creio na barca da palavra, no sopro do abismo; eu creio, sim, na ressurreição, não do corpo, mas de nossa Tocata e Fuga visceral.

Beethoven com 3 anos, em 1773.


A história dessa música do Beethoven (1770-1827) que vais escutar a seguir é comovente: um dia, certa moça, que era cega, gritou que nunca tinha visto uma noite de luar: então o mais terno dos homens: Beethoven: fez esta pérola para a moça ver o luar:

Moonlight Sonata

http://www.youtube.com/watch?v=u7TUYgHQTTE&feature=related


Não é a suprema delicadeza?



Em busca do tempo perdido


Anônimo, 1928

Ice Palace at Lachine, Quebec