segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Ver a aparição de um disco voador
na baía de Guantanamo,

México

http://www.youtube.com/watch?v=xxgHBEeQCR4&feature=related

Mister Wong desenhado por Hokusai (1760/1849)
A fonte era atrás da Igreja dos Lavados – e fiquei horas num êxtase, língua à brasa de coxas, andando, no pensamento, em torno do poço com erva da tempestade no céu da boca.

Bebi aguardente, benzi pedras e gatos.

Vi, pela primeira vez, o aspecto interior da fonte de água mineral que me envolve e me incita ao linho. Sonhei, chuva a chuva, o abismo em que me precipitei nulo. Escutei em meus tímpanos o bosque de uma voz que desfiava uma barca na correnteza.

Retirei da sombra o meu vazio íntimo, meu ser colossal e banal ao mesmo tempo, e tirei-me a ferros das entranhas de mim mesmo. Devaneio entre o bairro de Água Branca e o bairro dos Paulas. Gozo antecipadamente o prazer de ir tocar as coxas de uma das três mulheres Araxá.

Uma hora estou aqui deitado nas folhas das folhas de relva, outra hora estou lá e pratico ablução com areia embaixo de um baobá, vendo os ângulos algumas vezes cáusticos do absurdum – bato o fino tambor: absurdum, absurdum, absurdum.

Tornamo-nos cadáveres, ainda que falsos, até atingirmos aquele ponto da ilusão em que a própria ilusão se destroça, onde já não distingüimos quem somos, de onde viemos, para onde vamos. Porque, de resto, o que fingimos é isto, fingimos estar vivos e somos cadáveres e não sabemos nunca a nossa origem primordial.

O único modo de estarmos de acordo com essa vidraça – ou a vida –, é estarmos em desacordo com nós próprios e com esses talhos fundos sobre a fauce, como feitos por dentes de garfo.

O absurdo é o divino e eu passo por entre lianas, alcanço o retábulo de pedra e nele adormeço. Acordo para estabelecer a seguinte teoria: o mar assina oráculo na carapaça da lagosta, depois age contra ela, para justificar o quanto é oco esse oráculo e ocas as nossas ações e as teorias que as vivificam.

Talhar uma tainha na nuvem, e logo em seguida soprar as nuvens e seguir por essas alturas.

Ter, nos gestos todos, jorro de água e, no pensamento, uma loja de cristais; gestos aquáticos e o inferno é esse gato persa que penetra surdamente na loja de cristais e os cristais – tensos todos – confidenciam que nem somos gato persa nem pretendemos ser nuvens.

Adquirir um livro para ler nas páginas desertas a pétala, o salmão e, se pétala de salmão é escama, também é selo de poesia.

Ir a concertos para não escutar os cellos suntuosos de Brahms nem para ver o Mister Wong que sempre lá está (no auditório de um concerto, todo calvo é sempre o Mister Wong); dar longos passeios por cima das ondas, andar no bosque vazio por estar farto de andar no bosque vazio e ir passar domingos com a cabeça embaixo do travesseiro só porque ali o céu não nos aborrece.

Agora que me oprime a roda-de-ferro na fronte, aquela angústia antiga me conta que chovem fios de mel na carpa, por vezes bebo o andamento delas num aquário e respiro deitado numa das longas folhas da bananeira. E como, ao sair eu, o vento verificasse que a garrafa de vinho ficou pela metade, o vento bateu com a cortina na garrafa, aliviou-a de repente de seu líqüido e o vento se afastou.

Esse preceito fala de eternidade... Pode ser traduzido mais ou menos assim: Só pode existir algo que sempre existiu. Saudações.

Resposta de Rama Si ao preceito búdico:

Antes que a primeira vela se acendesse,
a vela já estava acesa.
7 mulheres nuas

Gaudenzio Marconi, 1870


Jock Sturges


Flor Garduño


Cartier Bresson


Cañelas, 1890


Anon, 1890


Andrej Glusgold





Ruy Braga, intelectual e homem de teatro, que deixa saudade nos cafés da Lagoa, em Florianópolis, fotografado por Francine Murahara.

Fundação Franklin Cascaes

Ver algumas fotos
de Francine Murahara

Fundação Franklin Cascaes
Ler os poemas
de Francine Murahara

http://www.germinaliteratura.com.br/francine_murahara.htm

Simone de Beauvoir (1908/1986)


Esta foto, de Art Shay, tem como título "Simone de Beauvoir em Chicago", 1952
A bunda de Simone de Beauvoir

Escrito por Paula Sibilia

Uma foto da escritora feminista nua,
com alguns traços retocados digitalmente,
causa polêmica em Paris
http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/2951,1.shl

Se esquecemos a luz antes de perdê-la?
Mas perdida antes de esquecida estava.

Resposta de Dennis Radünz ao preceito búdico:

Antes que a primeira vela se acendesse,
a vela já estava acesa.