quinta-feira, 13 de março de 2008

O SEGREDO

Não devo pensar.
Antes de tudo sentir e ver.
E quando de ver se passa a olhar,
acendem-se raras luzes
e tudo adquire uma voz.
Assim, descobri, de repente,
em um segundo fulgurante,
que existe uma Dança das Árvores.
Não são todas que conhecem
o segredo de dançar ao vento.
Mas as que possuem a graça
formam rodas de folhas ligeiras,
de ramos, de brotos, em torno
de seu próprio tronco estremecido.
E é todo um ritmo que se cria
nas folhagens; um ritmo ascendente
e inquieto, com encrespamentos
e retornos de ondas, com brancas
pausas, respiros, vergamentos,
que se alvoroçam e são
torvelinho, de repente, numa
música prodigiosa do verde.
Não há nada mais belo que a dança
de um maciço de bambus na brisa.
Nenhuma coreografia humana
tem a eurritmia de um ramo
que se desenha sobre o céu.
Chego a me perguntar às vezes
se as formas altas da emoção
estética não consistirão,
simplesmente, num supremo
entendimento do criado.
Um dia, os homens descobrirão
um alfabeto nos olhos
das calcedônias, nos pardos
veludos da falena, e então
se saberá com assombro
que cada caracol manchado
era, desde sempre, um poema.


Poema de Alejo Carpentier, traduzido por Marcelo Tápia

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