quinta-feira, 13 de março de 2008

A FLAUTA-VÉRTEBRA
(Prólogo)

A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.

Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.

Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria,
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.


Maiakóvski em tradução de Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman

Nenhum comentário: