MULHER-LAGARTO
Não poderia mais viver em solo fértil. O corpo lhe passara uma descompostura. O deus. O umbigo. A erva-mate. A morte. A vida suburbana. A eternidade. Perdera os três filhos e esta era uma afirmação sem fim, com um milhão de patas, e pegajosas.
Gritam os insetos, na solidão dela. Gritam os lírios. Grita a surdez da solidão. Tudo grita para quem perdeu a alma de três filhos, em três diferentes invernos. Era um afogado, um atropelado e um adoentado.
Olhar para que lados? Perguntar o quê?
(...)
Aprendeu a sorrir como os animais selvagens, com um esgar solícito de dentes pontiagudos. Não sabiam, mas a mulher-lagarto, órfã de seus filhos, havia se tornado capaz de matar.
Do livro de contos Casa das Feras, de Márcia Bechara,
publicado pela 7 Letras
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