PAISAGEM GÓTICA
Lautréamont e o vazio em núpcias góticas,
no calabouço faiscando de estrelas.
A raga lava o régio e o nenúfar no casco
do rinoceronte de orvalho:
--- lapidem esse aquam fontis vivi (*).
Molha o fogo a língua sânscrita:
o êxtase consome a onda, a onda passeia o mar
de sibilas e o íbis neva num outro mundo.
No calabouço de pedra pura, o vazio e Lautréamont
agarram-se pelos cantos sombrios
de um quarteto de Villa-Lobos, garfo de serpente
na pele de seda sob uma chuva de oro,
chuva de oro de los kamikases.
O vazio e o anzol
– véu negro contra a tez esbranquiçada.
O vazio serve mel ao tigre, sopra no mármore do castelo.
O vazio sabe que a carne do espírito
é brilhante,
impossível.
* Lapidem esse aquam fontis vivi: a pedra é uma fonte de água viva
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