quarta-feira, 18 de junho de 2008

Ao amanhecer está Lucana adormecida na cama larga, entre copos de bebida emborcados, cesto de frutas --- kiwi, mamão --- e restos de sonhos, enquanto o Cristalino, frente à janela escancarada, fuma erva-cidreira e escuta no gramofone a voz de Caruso. A árvore fora de mim: é por ela que subo até às vidraças azuladas da Casa de Água, onde o vento acorda de cabeça para baixo: soprar o vento para as bananeiras e para as constelações. Aqui na varanda espio o Cristalino fumando e um fervor de agáricos nos troncos da amarga oliveira. Observo as finas cordas da chuva que serenam d’água os telhados de Villa da Concha. Calmo, podia inventar o paraíso, silêncio a silêncio, sombra por sombra. Seria um silêncio criador – fonte aberta ao acaso – busca incessante do gume ileso do vocábulo: silvo de fogo na geleira e nunca a lentidão líqüida de algas apodrecidas.

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