quarta-feira, 11 de março de 2009
Exercícios de exílio: eu, K., sou um estranho fruto da vigília; no quintal dela respiro, indago e acredito que hei de vivificar, não indo à árvore-de-ferro do pesadelo senão por destino e de relâmpago; sou um estranho e aceito que a vigília prefira uma ninfa de coxa atlântica a essa mistura de luto e lodaçal. Estou no Jardim de Pedra da Casa de Água e alumio frouxamente o fícus: o vento dá cinco voltas em torno do fícus, enquanto penso em Schopenhauer e no real; real que pode ser um cântaro vazando água ou aquela frase de cristal pronunciada no escuro: alento vital, spiro, sopro, hálito, presença divina. E é este real (que existe de fato; verdadeiro) que dá oxigênio/aragem à Coisa; e Coisa é aquilo que insiste em sua parte real e permanece livre da representação, e talvez seja a causa das pedras, dos regatos e do céu e, sendo Coisa, é diminuído pelo significante: a essência do Vazio. Para mim e para Nietzsche, nos significantes retina, concha, Aldebarã dormem imagens, como na pedra dorme uma imagem. Algo – fontis vivi – dá forma a este outro significante: a figura Lucana da Coisa, e que é possível imaginar. A ficção é a imagem do inimaginável. O significante Lucana se instaura em certa relação com a Coisa, que está feita ao mesmo tempo para presentificar e para ausentificar. Aqui, em Villa da Concha, podemos vislumbrar o pescoço longo de um coqueiro coroado de chuva criadeira ou chuva persa.
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