Para vislumbrar o ponto de orvalho – que é o princípio da serenidade –, cada palavra precisa orar sobre seu próprio escombro; e se aceita que é escombro, a palavra se realiza, casta e sórdida, como nesse fragmento de Rimbaud: “Feéries profanas. – estou sentado, leproso, sobre os vasos quebrados e as urtigas, ao pé de uma parede corroída pelo sol”. Após a leitura desse pequeno texto embaixo daquela árvore, na praia de Pinheiros-bravos, entrei no mar e notei que o relicário movente da água marinha não é da ordem do útil. E porque somos improvisos de céu profundo, somos rapsodos, e hoje anoitece mais um domingo em Villa da Concha. O ponto de orvalho recolhe e apazigua o vendaval. O mar não se destrói com nenhuma tempestade. Um olor de cipreste na bigorna. Lavo agruras se me chovo ervas noturnas, para que os meus olhos d’água possam escutar os belos versos de Ungaretti:
No olho
de mil e uma noites
repousei
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