sexta-feira, 20 de junho de 2008

Introdução ao sânscrito

Por Loka Saksi dasa


As origens do sânscrito

A palavra Nada significa som e indica a primeira vibração na Energia Espiritual, quando ela se expressa na criação do mundo material. A forma abreviada de Nada é chamada de bindhu (gota). Nada, a vibração sutil do som transcendental, apareceu primeiramente no éter do coração do demiurgo Brahma. Dessa vibração sutil transcendental surgiu omkara, composto de três fonemas que representam a Verdade Absoluta em todas as três fases – a Personalidade de Deus, a Alma Suprema e o Ser Absoluto. Dele o Senhor criou todos os sons do alfabeto – vogais, consoantes, semivogais, sibilantes e outros – distintos por características tais como a medida longa e a breve. Por isso afirma-se que o alfabeto sânscrito, em sua ordem, surgiu do Senhor Narayana, quando Ele primeiramente manifestou o conhecimento védico no coração de Brahma.

A palavra sânscrito (samskrta) significa refinado e é a formada pela raiz verbal kr "fazer" mais o prefixo sam "junto, perfeito". O sânscrito vincula-se a parte padronizada da língua original da humanidade que caracterizou a civilização ariana, chamada de devabhasa "a linguagem dos deuses". Outra parte é o prácrito (prakrti) de onde surgiram todas as línguas vernáculas e dialetos conhecidos. O sânscrito e o prácrito têm coexistido lado a lado desde os tempos védicos primordiais.

É um fato histórico e linguisticamente aceito que o sânscrito está ligado a origem das línguas da Europa, com a exceção do finlandês, estoniano, húngaro, turco e basco. Esse relacionamento pode ser visto com semelhanças óbvias como: pitr – pater (latim) "pai" ; matr – mater (lat) "mãe" ; bhratr – brother (ing) "irmão" ; grdha – greed (ing) "cobiça" . . .

Se aceitarmos a versão dos historiadores, sabemos que pelo menos há 4.500 anos já existia uma civilização bastante desenvolvida na região que abrange o vale do rio Indus e do antigo rio Sarasvati, que corria onde é agora o deserto do Rajastão. Acredita-se que eram os dravidianos. Apesar da teoria dos ocidentais, de que este povo foi invadido por nômades, arianos pertencentes às tribos indo-européias por volta de 1.550 A. C., nós sabemos, segundo versões das próprias tradições védica (ariana) e tântrica (dravidiana), que isso não aconteceu. Esses dois povos e suas civilizações sempre coexistiram. A invasão e dominação ariana na Índia é apenas uma teoria.

Historicamente falando a mais antiga evidência que se possui da civilização ariana é os Vedas. A partir do Rig Veda a língua se desenvolveu até o sânscrito clássico, conhecido e usado até hoje sem alterações. Para manter a pureza dos Vedas surgiram as ciências da gramática (vyakarana) e da fonética. O livro mais antigo sobre linguística é o Nirukta, de Yaksa Muni (o primeiro sábio a esmiuçá-la), e que trata de filologia e etimologia. Foi somente com a descoberta do sânscrito que a ciência fonética se desenvolveu na Europa (século 18).

Foi devido a gramáticos como Panini (séculos 4 e 5) que o sânscrito se fixou em sua forma clássica e, a partir de então, a língua, dentro dessa estrutura, só se desenvolveu em seu vocabulário. Panini escreveu um tratado da língua sânscrita, chamado Astadhyayi, com oito capítulos e cada um deles dividido em 4 partes, totalmente organizado em sutras (aforismos mnemônicos, breves e sem comentários). Muitos outros gramáticos apareceram e escreveram comentários sobre a obra de Panini, inclusive Patanjali, o autor dos Yoga-sutras. Mas de relevante importância para a tradição vaishnava foi a gramática de Sri Caitanya Mahaprabhu, escrita por Srila Jiva Goswami, que descreve os fonemas e as regras gramaticais do sânscrito como sendo nomes do Senhor Vishnu.


O valor do sânscrito

Compara-se o sânscrito com a matemática, pois nele os princípios da harmonia sonora operam precisa e consistentemente; indo dos sons básicos até a multitude de palavras em suas quase infinitas variações. O sânscrito não se compara com nenhuma linguagem conhecida. A forma como as palavras brotam das sementes é remarcável. A raiz verbal é sempre uma única sílaba que contém os sons ou fonemas básicos, a, i, u e r. Quando da raiz verbal surge uma palavra, o fonema sofre guna, que é um princípio de transformação qualitativa, para mantê-la ressonando perfeitamente. Portanto, da raiz verbal cit, "perceber", temos as formas retumbantes de cetami, "eu percebo", e cetanam, "estar consciente". Budh, "conhecer", torna-se bodhami "eu conheço", ou bodhanam, "conhecimento". Isso age com uma precisão matemática por toda a língua dando-lhe poder extraordinário e facilitando o seu aprendizado.

A perfeição linguística do sânscrito não é a única explicação por ele ter subsistido por mais de cinco milênios. Mera exatidão e precisão não bastariam para isso, pois a matemática, que é uma linguagem precisa e utilizada uniformemente pela ciência, excita o cérebro mas não o coração. No entanto, o sânscrito, assim como a música, tem o poder de tocar o coração.

O sânscrito oferece a todos acesso direto a um plano superior, onde tanto a matemática como a música, o cérebro como o coração, a razão como a intuição, a ciência e a religião – tornam-se unos. Gerando clareza e inspiração, a linguagem do sânscrito é o responsável direto pela iluminação da expressão criativa de uma forma jamais vista no mundo.

O sânscrito é a linguagem dos mantras – palavras que tem o poder de remover os condicionamentos da mente, por estarem em sintonia sutil e direta com a harmonia invisível e arquetípica da criação.

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