A moça na esquina sabe que ser é estar em algum ponto. Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer. Eu tenho uma simpatia natural por esta moça na esquina, a única que sabe que meu nome é Rimsky-Korsakoff. Posso orgulhar-me de haver elaborado a Teoria de Física Poética que confirma:
– Dizer que qualquer jarro de ouro da Pérsia arruína a retina é o mesmo que dizer que qualquer imagem arruína o olho? O jarro de ouro da Pérsia, quando visto, não volta mais à forma antiga.
O sopro que escuto, vindo de entre as longas folhas das bananeiras, me conta que a sétima lição de Sappho é passar a navalha no pescoço do cliente.
Eu não ter bebido um copo de cachaça esquece-me sóbrio sentado aqui nessa cadeira de barbeiro. Observo o barbeiro sem saber se vejo a tesoura que apara as hastes de minha cabeleira.
Na esquina há outras moças e também aquela que sabe que ser é estar em algum ponto. Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer. Na outra margem relvada está a mente: o frescor.
A mente sabe que, sob a árvore daquela frase, Ovídio espanca o muro com jasmins. O céu acima do muro: azul que nunca envelhece.
Tem uma fenda a mente; desta fenda pode-se vislumbrar a palmeira e, embaixo dela, o Buddah: que não crê em Deus, que não crê na alma, que não crê no paraíso. Os olhos de Buddah são realmente cristalinos: fitam-me do fundo da fenda da mente com um presságio qualquer.
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Um comentário:
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