sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Pollock (1912-1956)



Eu sou uma criança incorrigível: não há mais saída pra mim.

Eu creio em cavalo azul que respira música pelas narinas.

Sou anacrônico, talvez; eu creio em mulheres de vento que dançam tango rente às águas e mergulham nas águas pra colher anêmonas no fundo do mar.

É óbvio que a poesia é algo pra depois da morte física. Somos urdidos com milhões de fótons. Fóton: unidade de energia luminosa: a menor partícula possível da matéria.

Não é possível ver um fóton a olho nu; então estamos falando do invisível, que é um excesso de não ser.

O que em nós é invisível ressuscita: a música é invisível; a voz é invisível; o perfume é invisível.

A palavra, que guarda em si resquícios de um hálito, é igualmente invisível.

Niels Bohr diz textualmente: "Num pingo que faço, com a caneta, nessa folha de papel, há 10 milhões de átomos e 100 milhões de fótons".

Eu creio num fogo nas caves do pulmão; eu creio na barca da palavra, no sopro do abismo; eu creio, sim, na ressurreição, não do corpo, mas de nossa Tocata e Fuga visceral.

Um comentário:

Carlos Alberto disse...

José Fernando, dessa vez você foi demais.

Ao se descrever, ou descrever alguma ficção tua, acabou me descrevendo. E muito bem.

Estava dia desses comentando com um colega sobre a poesia, e lhe falava que creio que escrevemos porque temos grande medo da morte, deste fim físico.

Quem sensação de leveza e peso depois de ler esse teu texto.