sábado, 7 de junho de 2008

E todos os jardins suspensos do fundo mar se curvaram quando ela passou. Se ela te abraça é uma semana de barcos. Pertence a quem não marca seu céu. Onde não enraíza espelho: ali ela respira. Sua essência marinha não erra ponta de cardume. Abana o azul com leque. Eu sonho, Aura, que tu dormes enquanto chove lá fora, chove uma fina chuva em teu sonho, e tu sonhas que eu te entrego uma flor: fomos feitos para escutar música; para escutar estrelas de pura água; para escutar o silêncio do coração – coração do sol. Nunca decifres, nos búzios, o sétimo céu. Quero flagrá-lo aqui do terraço com Olho védico, com a voz, com o desejo esvaindo águas. Imersa nas águas tu és, bem-amada, em meio às narcejas. um Deus escondido. De tal modo serenada, que o sopro de teus olhos desarruma oceanias. Te ofendo com apitos, meu deus, com pratos de plantas, para que aprendas a inutilidade do céu. Há mais pensamentos que coisas. Fico miosótis para o fim, desaprendo a ira para pra te convencer que a morte não existe: essa pirataria sepulcral é só um jeito da gente brincar de sumiço. Te convenço que aqui no centro se unge com boana. Balanço cabeleira só pra ofender meu Deus. Com cachaça feroz eu espicaço tua alma, parto em duas tua espinha dorsal e te espanco até que caias numa cama de suave pena de cisne, os travesseiros de chuva serão apenas testemunhas secretas do quanto minha língua de fogo sabe o sabor de tua pele branca de neve, eu como a maçã da branca de neve, eu chupo a pequena uva do clítoris da branca de neve, eu subo na mais alta árvore e me atiro nos braços da chuva. Ante o mar azulado, na cadeira de praia, ela dormindo sonha com o príncipe da neblina que se aproxima de sua orelha esquece ali música verdejante. Certa mulher, mas não esta ou aquela, porque me refiro à que vive na ilha do Arvoredo – nas noites perigosas – é música atravessando o muro. Tu de branco, Míriam, mais bela que o Taj Mahal se é céu noturno. A escrita incita o linho. A poesia é quando estamos andando sobre o dorso de peixes dourados e alguém nos entrega um livro justo na página 61 onde está escrito que não há palavra de adeus para os flocos de neve que se fundem à brancura do campo. As ervas do jardim. A voz rasga o céu, a raga indiana rega as ervas do jardim – pairo acima de salsos pendentes. Sob o laranjal, sob o vento, sob o sol, Ana é um arpejo. Os dedos acordam laranjas: uma sombra pesa no ar: − é o pássaro negro! − é o pássaro negro! Diz Ana: “Que o pássaro negro me leve, mas não já”, depois abraça o laranjal. De longe, assim abraçados, nuvens de borboletas. Martelar a ponta branca do punhal, afinar sobre a bigorna a lâmina de prata. As batidas ressoam na clavícula,e parece que Joseph Peyré quer sagrar o tédio. Brutas marteladas, suas únicas armas, afiam o punhal que vai descascar a laranja. A mãe morta é bela porque é a delicadeza se dissolvendo. Com machado de ferro quebra-se a pedra. Clareza fixa e rústica, a pedra, se cortada em duas, são duas pedras mais belas que a mãe morta, porque pedras não morrem, mantém a delicadeza. Na ponta de sete talos de erva, na vasilha de endurecer o ferro: a imagem da pedra. Por vezes se a imagem se oculta, faz sonhar ainda mais. Nunca se aprende uma imagem e com sete talos de erva curo-me. Na vasilha de endurecer o ferro, um desenho mínimo de rios. Com ele salvo da morte as imagens. Olho atentamente as barbatanas tuas, peixe, que circunsoam na escuridão do pélago. Sou azul e peixe no milésimo de segundo em que olho atentamente as guelras do peixe que sobe pelo silêncio desse espelho que captura o silêncio de uma pedra branca, às vezes invisível, e que os anjos deram o nome de segredo. Eu não existo, Senhor, aprofundado que estou em teu oboé. Em teu aroma de cântaros eu respiro, Senhor, com ossos delicados criados por Ti. E me findas sem que eu saiba das três belas de Edo. Quem eram? Quem não eram? Voz mansa, Chateau Duvalier, varandas, redes, que mais para o amor? Eu não existo e as minhas palavras tornam aéreo o chão. O sol, na manhã lavada, é a sombra do Deus. Ficamos ali vendo as mulheres mergulharem no oceano para esquecer, enquanto nos teus olhos li que a morte é a única sombra: manhã com céu a incendeia. Há no céu imensas curvas de cristal, e na cama os esqualos, faltasse água, morreriam à luz seca do meio-dia. Por isto fomos ao oceano com baldes de alumínio caçar águas. Enquanto eu enlaço quatro noites, o peixe da sombra azula a sombra e, à sombra do peixe, torres de igreja bizantina. Numa das torres reluzem os abismos e o peixe sobe para o céu, por causa da palavra céu, por causa da palavra peixe. Arco noturno de água, aonde vais com a fronte consumida? Para o sono dos ventos num barco de madeira, vou buscando o rio à beira-mar, próximo de restingas. Aroma, rastro e junco. Mar, aonde vais? Para os cristais e as árvores. Rio acima vou buscando a palavra sagrada, fonte onde descansar a ressurreição perdida. Descansar sem sombras no coração. Choupo, e tu, que farás? Receber da rosa o perfume branco da claridade que se esvaziou. Não dizer mais nada. Apenas arrepiar-me! A estrela molha a penumbra. O que desejo, o que não desejo, pelo rio e pelo mar? No deserto o rio oculto nos teus braços. Quatro pássaros sem rumo no alto choupo estão.

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