quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Pablo Schugurensky





Quando vem a taciturna e quebra os canos, a casa fica sem água; a taciturna destroça rosais, canteiros de gérberas e a Casa do esquecimento, onde a taciturna vive, exala um olor verde-mofo.

Para ele a taciturna verte a lágrima no escorpião; a taciturna sopra na pele; para ele ela enche os copos de sol; para ele ela murmura as sombras do amor.

Ele, da varanda da Casa do esquecimento, atira flechas em qualquer um: quem passa à frente da farmácia, flecha no ombro; quem sai da igreja dos Beneditinos, flecha na testa; quem entra no cartório, flecha nas costas; quem sai da lotérica, flecha no pé.

Ele ela: olho no olho, no frio, presos nas profundezas, somem de si para sempre.

Ele:
"Escuto, o machado floresceu".

Ela:
"Escuto, o local não é nomeável".

Ele:
"Escuto, a chuva que a tudo observa cura o enforcado".

Ela:
"Escuto, falam da vida como único refúgio".

Nenhum comentário: