terça-feira, 29 de setembro de 2009

Um Eu maior, aquele eu que deixa as coisas serem, não as sufoca com seus medos e desejos, um eu que quase se confunde com elas. A esse estado, os mestres antigos chamam “mu-ga”, em japonês, “não-eu”, o exato ponto de harmonia entre um eu e as coisas. “Não-eu” é o estado da perfeição. Os mestres antigos gostam de dizer que o que é perfeito ninguém faz. Ele se faz sozinho, a hora que quiser; tudo o que podemos fazer é suspender os egoísmos da subjetividade para permitir que a realidade se transforme em profunda respiração. Não existe isso que se chama “escrever bem”. Existe é pensar bem. Escrever é pensar. Quem pensa mal, escreve mal. Não há habilidade retórica que consiga disfarçar um pensamento fraco ou medíocre. Tem gente que domina bem os recursos de estilo, manipula vasto vocabulário, constrói bem suas frases e sabe dar às palavras o justo peso. Mas tem pensamento fraco, ralo ou sem cor. Não existe estilo de linguagem. O que existe é estilo de pensamento.


Paulo Leminski (1944-1989)

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