terça-feira, 20 de janeiro de 2009

CIDADE


Sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole que julgam moderna porque todo estilo conhecido foi excluído das mobílias e do exterior das casas bem como do plano da cidade. Aqui você não nota rastros de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas às expressões mais simples, enfim! Estes milhões de pessoas que nem têm necessidade de se conhecer levam a educação, o trabalho e a velhice de um modo tão igual que sua expectativa de vida é muitas vezes mais curta do que uma estatística maluca encontrou para os povos do continente. Assim como, de minha janela, vejo novos espectros rolando pela espessa e eterna fumaça de carvão, — nossa sombra dos bosques, nossa noite de verão! — as novas Erínias, na porta da cabana que é minha pátria e meu coração, já que tudo aqui parece isto, — Morte sem lágrimas, nossa filha ativa e serva, um Amor desesperado, e um Crime bonito uivando na lama da rua.


ARTHUR RIMBAUD
(Em Illuminations)

Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça

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