terça-feira, 1 de abril de 2008

Sonhei que fazia amor com um automóvel branco, um Citroen DS. Dois homens conduziam esse carro, desafiando-me a ficar em cima da carrosserie, muito lisa e escorregadia, enquanto guiavam o carro a grande velocidade. Consegui manter-me e à medida que ia ganhando mais confiança comecei voando ao longo do carro, depois ao lado e por fim aterrando no escorregadio capot, sentindo a mais exaltante sensação de liberdade, de elegância, de destreza. O carro continuava seguindo a alta velocidade. Eu voava a seu lado, braços e pernas estendidos, dando saltos como bailarina. Vestia roupas curtas, transparentes, fluentes sobre o corpo nu. Voava e ria com a mais pura alegria, tocando por vezes no carro, até que por fim me achei de pé no guarda-lamas traseiro. Com os braços e as pernas agarrados ao carro, lentamente senti o meu corpo cobrir-se duma espécie de inúmeras bocas que se colavam à carrosserie como ventosas de polvo, mas com a forma de bocas humanas. E eram muitas, muitas, muitas. Com a velocidade incrível sentia o êxtase.


Fragmento do livro Anacrusa, de Ana Hatherly

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