domingo, 30 de março de 2008

Misantropo

Teu olhar tem encantos como essa pedra ou o cheiro de ervas fervendo.

Encantos de chá ou de sangue derramado no altar do sacrifício, teu olhar.

Entrei no local sagrado onde, sob a pedra, crepitavam brasas rastejando no lastro do teu olhar.

Desde muitos séculos há leveza no lenço pendurado no varal. O vento sopra por trás e eu sou o vento através do teu olhar.

Escravizado pela alma que habita esse espelho fui, um dia, a alma distorcida desse espelho.

Alma do espelho, porta do teu olhar.

Abismo que a qualquer matéria dissipa, grito sufocado pela sombra dos teus cílios, tétrica caverna onde me desloco cristalino com ira de navalha,
torto, torpe, arranco da órbita

esse teu olhar.


Adriana dos Anjos

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