Da barca Nautikon, que paira acima da enseada, Mister Magoo observa, com o periscópio, as imensas curvas de cristal que o vento esquece nas telhas, nas janelas e, por último, o vento dá um rasante e paira – invisível – sobre a cama da gueixa Yuki – belo animal selvagem.
Outono por dentro e por fora das casas e ainda é manhã na baía da Babitonga.
Quem vislumbre a barca Nautikon – e no ladrilho livros de Schopenhauer e Hilda Hilst espalhados – quem a vislumbre flutuando assim rente a uma grande nuvem barroca, cuida que Mister Magoo espia, pela escotilha, aquela princesa nua e adormecida; uma princesa nua de neve que, ao virar-se no lençol, desvela uma quieta água; mas, se observo com mais acuidade, posso dizer que Mister Magoo vê a barroca nudez e o serpentário de cabelos da gueixa Yuki – longos, negros.
Quem teria sido Mister Magoo antes da primeira respiração? Nada.
Que é neste exato momento? Marujo da barca Nautikon e que olha para o templo de Khajuharo que traz em si – construído, mármore por mármore, na alma; olha para a toalha no banheiro (uma toalha com inscrições de um íbis nevando no outro mundo, que lhe ofereceu o filósofo Mo tsi); olha para as casas e para as canoas na orla da baía, para o quintal repleto de cerejeiras, para as mulheres que molham os dedos na água benta e se ajoelham, para as barcaças e veleiros e para as nuvens; e tudo, desde o sobrado onde respira a gueixa Yuki até a toalha onde o íbis neva, tudo se encontra imerso numa bachiana de Villa-Lobos ou numa frase de cristal.
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