domingo, 17 de fevereiro de 2008

SE EU MESMO FOSSE O INVERNO SOMBRIO
(A cisterna --- Opus 1)

Eu ouço a fonte dos tontos.
Quem ouve a fonte dos tontos não cabe mais dentro dele.

Manoel de Barros



Caí na cisterna abobadada de Bahr El Khabeer
para escutar mel nas ostras,
para escutar a fonte dos tontos,
para escutar o sumo solar.
Aqui na cisterna tenho orgias de latim
e sou virgem de mulheres.
Meus olhos cobertos por vidros fumados,
de aros muito grossos e talvez prateados.
A cisterna mormacenta sufoca,
enquanto rememoro as cavilações
daquela noite de runas que vaticinou:
eu só poderia clarear o inverno sombrio

se eu mesmo fosse o inverno sombrio

Um comentário:

Pobres & Nojentas disse...

Que lindeza! Evoca uma paráfrase:

"Clareia-te a ti mesmo".

És luz, Fernando

Míriam