sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Eu, K., sonho que estou no alto de uma palmeira e que escrevo numa de suas largas folhas a lenda do arvoredo de ouro: “Lucana sob uma das árvores do arvoredo de ouro: a fina chuva de ouro nunca a acorda. Lucana congela um peixe salmônida (Salmo salar) na língua: a fina chuva de ouro descongela o salmo do peixe salar. Lucana no alagadiço rente à árvore de ouro: a fina chuva de ouro lava a garganta. Lucana reza o breve rosário de buirás: a fina chuva de ouro remansa olho de cacto e aquele ouriço-do-mar na gruta. Aqui envelhecem bosques nunca molhados, aqui juncos imersos no rio, arraia radiosa. O corvo coruscante, se é deserto, respira o dente do martelo. Esquecidos na larga folha de palmeira: sopros de raio e relíquias de brisa marítima. O peixe de pele fugaz, se é antigo, fura oceano de assombro, fura a pele clara da tempestade. O nervo do sexto improptus schubertiano açula a serenidade dos arrecifes recobertos de limo verde. Para a secura dos cabelos das náiades, niágara de águas, mais veludo que pedras”.

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