quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

RÉQUIEM

Não estamos nunca vivos.

Pra quê a vida? Para enrijecer o coração,
tornando-o pétreo com essa ausência de tudo
o que eram ondas, mulheres, quartetos de Haydn?

Não vivos! Começo a embrutecer o som oblíquo,
a perder de vista os olhos, as linhas de Matisse
nas barbatanas de miúdos peixes vermelhos.

Não vivos! Agora com medo da morte.
A morte nunca foi algo que pudéssemos esquecer.

Não estamos vivos. Nada dorme no céu.
À sombra íntima de mim sais-gusanos,
renegados apelos e caliças, prata dúctil,
parada treva, gaivotas desabadas no vento vivo,
certas esquinas saturadas de amendoeiras.
À sombra íntima de mim fiéis molossos,
ossudos e ferozes, guardam meu sono
para que eu levite com o movimento
de tuas asas para o alto, ó Anjo!

O céu: um sonho antigo.
As pedras, no céu de Rafael Alberti,
inofensivas.

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