sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O MORTO ACORDA NUM QUARTO NOVO

O nojo do morto é azul-carvão.
Vaso com pervincas o enlouquece.

A língua surda-muda do morto
nada sabe do sol e da sombra.

Depois que o vaso é arremessado no ladrilho,
ásperos os cacos lavam-se de toda certeza:

– somos nós os mortos –
na cama estreita e dura sem veleiros.

O vaso estilhaçado ressuscita no terceiro dia.
Está no céu onde caiu em ventura.

Paira sem destino entre odoríferos ares.
O nojo do morto, que era azul-carvão,

torna-se de acre verdura,
e a música verga de silêncios o vaso imortal.

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