sábado, 24 de novembro de 2007

Man Ray


Plantas bravias e a velha voz do vento ressuscitam sibilas, porque o belo é apenas o limiar do terrível. Enquanto o barco camaroeiro embate numa língua de areia à entrada da foz assoreada do rio, um (l’olors) olor de açucena na neve afasta o azar e o (ennui) marasmo. Kakekotoba (a palavra na palavra) é a passagem de uma palavra pelo oco de outra palavra nela esquecendo seu perfume: pois as palavras têm isso de cruel – recusam-se àqueles que as respeitam e se atiram aos pés dos que as reverenciam pelo que poderiam ser, não pelo que são. A serenidade de um verso latino. Na casa de Menandro angst morre nas pedras. Eu escuto orvalho no olho do peixe que paira no aquário da casa antiga, casa antiga que os vendavais circundam. Uma ramagem de sutis idílios faz sombra na parede branca da casa de Menandro. O sol marinho dá nas calhas e nas venezianas. Menandro desce os degraus de pedras soltas, nos galhos do salgueiro vai deixando blusa, calça, sapatos, chapéu, cachimbo. No mais mineral das profundas prosas altas, onde a viola de chuva se esconde, lá onde as piscinas ondulam tempestuosas, quando o escarcéu das águas se avulta, lá a voz selvagem e as iguanas sedentas, lá, na voz, se aclara a palavra nunca vista e a obsedante garoa rega a pedra da elegia. No alto-mar de transparente massa cristalina, quanto mais ao alto-mar de silêncio perto, mais a voz vai aclarando, se antiga é a alma que se vislumbra, assim das profundas mostra claro e radiante o mineral das prosas altas que serena o que, nas iguanas sedentas, há de árido. Oculto na ramagem do que rascunho, respiro metade xamã, metade pesadelo.

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