O PEIXE CAPELO
(Synaptura lusitanica)
Todas as coisas foram feitas por meio da palavra,
e, sem a palavra, coisa alguma foi feita de quanto existe.
Visto por esse ângulo, também foram feitas por meio da
palavra as coisas a seguir: xícara, aqueduto, quartzo, baleia
azul, prego, abismo, avenca, arroz, Confúcio, Hitler, mel,
urina, música de Bach, veneno da mamba negra, violoncelo, esporão
da agave, a passacale de Buxtehude, calabouço, biombo, água, Taj
Mahal, fezes, ácaro, gânglios, latrina, termas de Caracalla, o
peixe Capelo (Synaptura lusitanica), o aquoso das plantas, algodoal,
chá do Ceilão, mantras de Aruanda, chuvas nos arrozais da China, hieróglifos,
um lápis na península, cachaça, a voz da Sibila.
A palavra nunca se reduz a um bibelô de inanidade sonora,
porque a palavra deseja sempre ser a carne
daquilo que está sendo pronunciado.
A voz da Sibila
toca o vento
para tocar o meu ouvido.
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