quinta-feira, 14 de maio de 2009
O PRÍNCIPE RESSUSCITA O GRÃO DE CHUVA
Eu te tratei como príncipe, meu Deus, mas foste mau com a espécie. Dizimaste inumeráveis chuvas que estavam suspensas aos quatro ventos. Entre os teus longos dedos brancos, a negra ardósia de nosso túmulo. Como não te comoveste com tantas ondas tenras de constelações sumindo? Se em teu coração celeste houvesse apenas a sede de alcançar a estrela, se evaporaria do jardim a morte. Entre barqueiros acordaríamos leves – e príncipe que és, com olhos de céu – ressuscitarias cada
grão
de
chuva
ESTA É A CONFIANÇA QUE TEMOS EM DEUS: SE LHE PEDIMOS ALGUMA COISA, SEGUNDO A SUA VONTADE, ELE NOS OUVE.
(1 João 5, 14)
Pés de ouro equilibram-se em peixes. Inciput erat verbum: no princípio era a palavra. A palavra é clarabóia sobre o pensamento escuro. Jesus cita as antigas escrituras para sugerir que somos deuses. Na fonte fria lavar cabelos, lavar cabelos na fonte fria. Pés de pluma equilibram-se em águas. Tenho confiança em Deus e a Ele peço três coisas, segundo a Sua vontade:
– a força da criança
– a força da poesia
– a força da música
NUA
De madrugada a mulher nua foge do Convento de Sarga rumo à praia Brava. E, como disse o padre Gavallo: “era já tempo dela se molhasse no mar”.
Estranhei, a princípio, a conjugação inexata do verbo “molhasse”.
Um líquido desejo a entontece, um desejo de molhar as ondas com seu corpo liberto do hábito, do crucifixo.