quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
A princesa Shânkara Lis, minha filha
GODOT CHEGOU AO HOTEL SUNSET BOULEVARD
E NÃO ENCONTROU NINGUÉM
Vim a este Hotel Sunset Boulevard, rente ao mar grosso de sal e azul, porque me contaram que aqui estavam me esperando Schopenhauer e Francisca B. Não os encontrei. Não faz mal. Ficarei espiando o mar tranqüilo assim e o visível corpo n’água.
Mar em que nos abandonamos e que cresce em nós com as tormentas, continuará a ser água salgada em desalinho constante e os limites deste mar, fixados em alguma idéia, se confundem com a altura do céu que é claro sem nunca ter pensado: este céu é suficientemente despovoado de anjos e beatas virgens, de tal modo que resta sempre novo céu que podemos exaurir e dele arrancarmos as finas cordas da chuva, as chuvas de que é capaz o espírito.
E acontece que, para o espírito, as nossas presentes chuvas, sem consideração moral, são mais molhadas. Aquele que construiu em si a obrigação de molhar os dedos na pia de água benta, sabe que nunca deixará de faltar matéria e realidade à água benta e só terá necessidade de recorrer a ela se, vazio, e para iludir o escuro em si mesmo, tocar a suposta santidade da água que, ali na pia, é água apenas, e isso é tudo para essa água que, sem pia nem beatitude, continua ali e logo evapora. Mas chega de filosofia.
Não vou esperar mais. Daqui posso ver a Tabacaria. Talvez o Esteves saiba onde Schopenhauer — o peixe espinho — e Francisca B. estejam.
E NÃO ENCONTROU NINGUÉM
Vim a este Hotel Sunset Boulevard, rente ao mar grosso de sal e azul, porque me contaram que aqui estavam me esperando Schopenhauer e Francisca B. Não os encontrei. Não faz mal. Ficarei espiando o mar tranqüilo assim e o visível corpo n’água.
Mar em que nos abandonamos e que cresce em nós com as tormentas, continuará a ser água salgada em desalinho constante e os limites deste mar, fixados em alguma idéia, se confundem com a altura do céu que é claro sem nunca ter pensado: este céu é suficientemente despovoado de anjos e beatas virgens, de tal modo que resta sempre novo céu que podemos exaurir e dele arrancarmos as finas cordas da chuva, as chuvas de que é capaz o espírito.
E acontece que, para o espírito, as nossas presentes chuvas, sem consideração moral, são mais molhadas. Aquele que construiu em si a obrigação de molhar os dedos na pia de água benta, sabe que nunca deixará de faltar matéria e realidade à água benta e só terá necessidade de recorrer a ela se, vazio, e para iludir o escuro em si mesmo, tocar a suposta santidade da água que, ali na pia, é água apenas, e isso é tudo para essa água que, sem pia nem beatitude, continua ali e logo evapora. Mas chega de filosofia.
Não vou esperar mais. Daqui posso ver a Tabacaria. Talvez o Esteves saiba onde Schopenhauer — o peixe espinho — e Francisca B. estejam.
A DEFORMAÇÃO ORGANIZADA
DA LÍNGUA COMUM
PELA LÍNGUA POÉTICA
Um riacho de serpentes no cérebro,
um vaso de porcelana com verbenas.
O estranhamento se há cascalho:
aqui as palavras têm plantas.
Fisgo do cristal o inaudível,
alago a música da mente e,
à sombra do salmão ciumento, me recolho.
Imagino que sou neblina de Issa,
neblina vivificante, isca sou
de instrumentos arcaicos que crescem
em plantações protegidas por cercas de bambu:
tarolas, ravanastrões, sambucas,
arquialaúdes, tchés, turlurettes,
magrephas, pandoras, hidraules.
DA LÍNGUA COMUM
PELA LÍNGUA POÉTICA
Um riacho de serpentes no cérebro,
um vaso de porcelana com verbenas.
O estranhamento se há cascalho:
aqui as palavras têm plantas.
Fisgo do cristal o inaudível,
alago a música da mente e,
à sombra do salmão ciumento, me recolho.
Imagino que sou neblina de Issa,
neblina vivificante, isca sou
de instrumentos arcaicos que crescem
em plantações protegidas por cercas de bambu:
tarolas, ravanastrões, sambucas,
arquialaúdes, tchés, turlurettes,
magrephas, pandoras, hidraules.
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