CASA DA AGOA DO CHAFARIZ
Caída no lajedo da Casa da Agoa do Chafariz, a velha pronuncia a palavra: Qadós. Um aguar de onda marinha umedece o rosto de Hilda Hilst em decúbito dorsal rente à árvore. Envolta em eflúvios de água de colônia, ela agoniza e não há cítara nem pedra que a ressuscite. Com arraia tatuada em suas costas, com um olho tatuado acima de seu púbis, Hilda espanca com chapéu de chuva uma das janelas da Casa da Agoa do chafariz. Hilda Hilst traz hua cabeleira de limos, chêa de caracois, de michilhoens, ou caramujos e, ao peito, a música e um talim de pelles de enguias. Ainda é tão cedo que Hilda Hilst descerra a cortina de cristal e contempla o vento nas ramas. No altar, as lágrimas da deusa Orín são abandonos da chuva num dos degraus de mármore. Ou a deusa borda lágrimas na tempestade porque não voltarás? O marasmo dessa noite, através das cortinas de contas de cristal, olha para a ode que grafito sobre o dorso do peixe persa.
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