A MULHER QUE SE MOLHAVA DEMAIS NA CHUVA
Ela se molhava na chuva do passado, porque certamente o sábio tinha razão quando pronunciou que nunca está chovendo, sempre já choveu. Se ela soubesse que a chuva só molhava, ficaria mais tempo na chuva. Dois domingos depois retornei à sua casa e ela continuava molhada com a chuva do passado. Me contou que teve um sonho grotesco: sonhou que, por ordem de Himmler, dois homens da Gestapo penetraram no apartamento do general Schleicher, em Berlim. A filha dele, que abriu a porta, foi fuzilada na hora. Os homens da Gestapo passaram por cima de seu cadáver e, quando Schleicher pegou na pistola, foi fuzilado junto com sua mulher. As chuvas do passado estavam todas naquele canto da sala, bem ali, ó, atrás do vaso de samambaia. Ela se molhava nessas chuvas, enquanto abria a lata de sardinha.
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