MEMÓRIA DO AGUAÇAL
Dedico à Paula Mota
Oculto na ramagem do que rascunho, respiro metade xamã, metade pesadelo. Rascunho quintal para garças e mar, enquanto o reino nublado, na vigília, se desfolha. O Buddha que não existe, quando escuta o aguaçal, recebe o pensamento do aguaçal. Depois vai arrancando de muros rentes ao palácio mil sóis ali avoantes. O que eu sei dos manuscritos do tímpano é que a matéria imaterial faz refém a matéria. No papiro de Stephanos – hermetista do século 7 – a palavra é uma lasca da voz do Buddha que não existe, inscrita em aguaçal que fia e tece: a fala é então sua luz e singra, íntima do vazio, à bordo da barca Nautikon.
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