A TACITURNA
(A partir de um texto de Paul Celan)
Quando vem a taciturna e quebra os canos, a casa fica sem água; a taciturna destroça rosais, canteiros de gérberas e a Casa do esquecimento, onde a taciturna vive, exala um olor verde-mofo.
Para ele a taciturna verte a lágrima no escorpião; a taciturna sopra na pele; para ele ela enche os copos de sol; para ele ela murmura as sombras do amor.
Ele, da varanda da Casa do esquecimento, atira flechas em qualquer um: quem passa à frente da farmácia, flecha no ombro; quem sai da igreja dos Beneditinos, flecha na testa; quem entra no cartório, flecha nas costas; quem sai da lotérica, flecha no pé.
Ele ela: olho no olho, no frio, presos nas profundezas, somem de si para sempre.
Ele:
– Escuto, o machado floresceu.
Ela:
– Escuto, o local não é nomeável.
Ele:
– Escuto, a chuva que a tudo observa cura o enforcado.
Ela:
– Escuto, falam da vida como único refúgio.
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