quarta-feira, 9 de abril de 2008

A TACITURNA
(A partir de um texto de Paul Celan)


Quando vem a taciturna e quebra os canos, a casa fica sem água; a taciturna destroça rosais, canteiros de gérberas e a Casa do esquecimento, onde a taciturna vive, exala um olor verde-mofo.

Para ele a taciturna verte a lágrima no escorpião; a taciturna sopra na pele; para ele ela enche os copos de sol; para ele ela murmura as sombras do amor.

Ele, da varanda da Casa do esquecimento, atira flechas em qualquer um: quem passa à frente da farmácia, flecha no ombro; quem sai da igreja dos Beneditinos, flecha na testa; quem entra no cartório, flecha nas costas; quem sai da lotérica, flecha no pé.

Ele ela: olho no olho, no frio, presos nas profundezas, somem de si para sempre.

Ele:

– Escuto, o machado floresceu.

Ela:

– Escuto, o local não é nomeável.

Ele:

– Escuto, a chuva que a tudo observa cura o enforcado.

Ela:

– Escuto, falam da vida como único refúgio.

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