A rosa e a imagem da rosa. A rosa está ausente no próprio núcleo de sua presença. Uma imagem não se aprende. Sem imagem, rosa precária? No escuro, rosa é rosa? Rosa, não posso explicar, mas imagino. Não posso atingir a causa do fenômeno, então a crio. Olhar de dentro as partículas sonoras das vigas sob ar e aura. Os barcos saíam a sete mares, com sete marés pelos velames. Soa o martelo na antiga linha do vento que o construtor imagina. Os barcos saíam a buscar brisas que nenhum Deus imaginaria. Quem lima a âncora sabe a dor do ferro. Quem lixa o pó esquece a relva. Brutas marteladas, os barcos se erguem embalados pela onda futura. Talvez porque os barcos acordem cegos, necessitem de marujos que os velem nas longas noites das ribeiras. Tocar o vaso de Bizâncio vivo, mesmo a sombra na parede branca, bem como o sopro que o escultor Guyau Ouspenski esqueceu na superfície de louça azul do vaso de Bizâncio. O céu do Deus nos exilou – nós aqui – e para alcançá-lo só temos, talvez, alguns grãos de alaúde e Saaras de palavras: vaso, sopro, louça. As coisas tentam ser o que em Deus é e desistem. As coisas desistem de ser: homem, Órion, ventania. Deus, mais linho que o linho, desnuda-se da ilusão, esculpe além da pedra ode serena para Gregorovius. Eram cegos, rememoravam dinastias de vozes. Cegos a quase tudo, só viam jarro com azevém. Não viam ímãs aquáticos de Sirius nem o gongo virginal que soprava fogo azul no gelo dos olhos que, nublados, apenas enxergavam tudo o que, no jarro com azevém, jarro com azevém que alava-se no céu encordoado a nuvens. Apenas o sabor da sede os consumia. Por isto, aos acordes da viola de Gamba, entrelaçaram-se, às cinco em ponto da tarde, na piscina natural da sauna turca. Ninguém estava ali para coroá-los. De presente receberam o jarro com azevém. Atirei pedra no sopro, que fez da pedra uma ode. Menos palavras, mais sopros, porque o invisível é simples amor coberto de flores na curva do vento. Palavras são visíveis, com elas posso ler o que passa por dentro e por fora do jardim suspenso. Prefiro palavras a sopros, porque de sopros o poço é cheio, e não haveria sopros e poço sem palavras. Estou na cabina da barca que balouça menos. Tuas asas, bem-amada, lentas espirais que enraízam em ventos florais. Estou na cabina da barca orlada de espumas. Gaivotas e sol alto imersos no silêncio, porque de sol e silêncio é tua substância que respira o manancial de brisas vivas. Carregas teus primórdios na barca branca, em cuja proa desvendo tua voz com sede da tranqüilidade que vela o ancoradouro. Súbito um peixe azul salta das águas, traz na guelra o teu segredo, bem-amada, que diz que no sonho, antes de ser pássaro, és o espírito voador – cintilas a sílfide. Eu penso peixe branco rendado com flores peixe branco de Chuang Tzu Hai peixe branco idêntico a cada estado de meu pensamento. Foi bom para o peixe do sonho ser afligido pelas águas claras. O que é escrito na sombra do sol alumia a mente. O que é escrito nas águas sonha que é peixe.
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