K. escreve uma carta
ao filósofo Hervum: “A Jarra de Heidegger (Das Ding/A Coisa) é uma imagem e
imagem não tem enigma. Não custa nada frisar que a Coisa existe em sua exata
natureza e persevera – atua – desprendida da figuração, e é provável que tenha
dado origem ao deus babilônio Shamash; às cocléias, homares e conclins; à
peônia que pende rente à neve; ao bate-bate de atabaque do batuque; ao acaso
que impera. A Coisa – o Outro em exclusão interna. Escavar na ilusão este ponto
(.) – quantum – em que a ilusão mesma se transcende, se arrasa, confessando que
aí está apenas como significante: um exemplo – a palavra ‘Jarra’ –, de ‘A Jarra
de Heidegger’, é significante enquanto essência daquilo que não contém nada.
Outras jarras significantes: casca de laranja, de lagosta, de cebola, de
crustáceo, de réptil, de sequóia, de tartaruga, de caracol, de ovo, de pão. A
jarra de Heidegger – casca de vidro – é um objeto que circunda o Vazio e tenta
aclarar a existência deste Vazio no centro do real. Quanto mais o objeto – a
Jarra – é presentificado, mais ele nos abre esta dimensão na qual a ilusão se
destroça e aspira a outra Coisa – menos a letra do que o espírito do escritor”.
A Coisa é babel, bárbara, balbuciante. A Coisa existe mesmo quando não há. As
palavras sopraram antes da Coisa e cada sopro delas é um ramo de sutis idílios.
A palavra neve: sônica, nívea.
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