terça-feira, 16 de abril de 2013
Karl Baden, 1982
Eu, a protetora da palavra de Oxum, súbito adivinho que a frase-brisa virá: sete ervas, sete águas. Oro o conjuro do templo de pedra pura, molho na retina a imagem inconclusa de um cacto sem saída, mas aguado na retina. Angorá nos envolve: imagem-angorá traduzida para objeto. Nos olhos do angorá a luz vazando para o íntimo silêncio.
O paraíso é uma gravura chinesa cercada de peixes miúdos, transparentes. Contra as nuvens oníricas, imortais eruditos do folclore chinês dão as boas-vindas a um recém-chegado ao domínio celeste: este solo de oboé do século II.
O silêncio nunca dorme.
Sôin, à sombra do Monte Yoshino, observa e ah! o gafanhoto pula – aroma fosforescente cintila um instante. Tão compenetrado Sôin, não faz outra coisa durante o dia.
Neve em Kyoto: o pinheiro vergado de nuvens. O grou, em seu galho, avista o ombro de Bashô. Ombro vira galho. Neva na neve: Bashô vergado de neve. A neve, sua brancura, cai no grou e no ombro de Bashô.
No quintal de uma casa japonesa, Onitsura se esforça para encontrar a verdade. Dez anos procurou as nuvens que se molham no fundo do rio, antes que as trutas saltem. Quando desistiu, Onitsura foi ao horto e ali se iluminou ao veras folhas de bambu: peso do sol as inclinava às águas do chão. Noturno para a quietude do pássaro pisando lago seco próximo de folhas. Noite: cabelos molham a luz suspensa no lago.
Buson escutou na Casa de Chá do Luar de Agosto, que somente as obras sopradas pelo espírito são boas. Com shi-i (visão própria), Buson aprendeu que na maré vazante águas flutuam conchas sem medo.
Com o leque branco, Hokushi abana carpas no lago abafado. Alma de Hokushi: o leque branco.
E se houver jardim de sopros no oco da estrela alfa de touro? Se pequeno mosteiro com pomar houver na constelação boreal de Cassiopéia? E se nada disso houver, que Houyhnhnms saiba imaginá-los.
A imagem é a respiração daquele que é o Estranhíssimo.
A jarra de Heidegger vista da barca Nautikkon: obra clara psicografada pelo que na água tem sede. A jarra dormindo, raro espécime, no teu pulmão. Porém tão de longe vinha a luz pelos varais, que eu só podia segredar: o oco da jarra não se faz, o oco da jarra acontece.
Oco da jarra: a existência do Vazio no centro do real.
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