sexta-feira, 25 de setembro de 2009

UM POEMA DE CECÍLIA MEIRELLES (fragmentos)


Sou rio, serpente,
corro para onde quero, sozinha,
para longe corro
Sou perfume de óleo fervente,
ervas, flor, semente
em viva brasa.
Do meu fogo morro.
Não há fogo de sol nascente,
não há fogo de sol ardente
que se compare à labareda minha.
Olha os meus braços que seguem na minha frente,
finas cordas de seda muito seguras,
olha o meu vasto cabelo sombrio,
que é uma vela redonda de noite e de vento
Olha o meu corpo como um navio
cortando as horas escuras
e a louca espuma fosforescente...
Olha na minha boca o mel das tamareiras...

(...)

Minhas pernas são altas, leves e ligeiras
são minhas pálpebras tendas franjadas
e a sombra das caravanas se deita nas minhas olheiras.

Há nos meus olhos verdes luas levantadas
que escutam passar sedentas feras.


(Do livro Oratório de Santa Maria Egipcíaca)

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