Minha querida amiga:
a questão que eu sempre me coloco é a seguinte:
o Algo é uno e simples.
Bashô, quando lhe indagaram o que é o Espírito,
poderia ter dito conceitos e tal, mas apenas pronunciou:
o Espírito é Aquele que consegue "ver a lágrima no olho do peixe".
Há 3 elementos da vida nessa simples frase: lágrima, olho, peixe.
Quanta vida numa só linha de frase, não é?
Ver as coisas externas ou escutar a sabedoria externa de frases feitas
ainda não é ver "a lágrima no olho do peixe".
Ver a lágrima separada do olho do peixe: isso é grosseiro: tosco.
Um exemplo de frases grosseiras:
Potencializo com o fim de influenciar. Comandando a sabedoria, selo o processo do livre-arbítrio com o tom harmônico da radiação. Eu sou guiado pelo poder do fogo universal. Assumo o meu próprio poder e nada fora de mim pode interferir em minha realização.
Onde está a vida dessas frases? O sabor?
E não é do sabor que vem a palavra sabedoria?
Você, minha querida amiga, tem uma língua natural e esta língua está se diluindo em aforismos. Eu, que vi você nascer para tua língua, percebo isso claramente.
Não vá para fora, retorne ao sutil, à lágrima no olho do peixe.
Ver a lágrima no olho do peixe é o mesmo que escutar o vento até que ele adormeça na palavra: aos poucos o vento aprende a acordar e a palavra também desperta.
Eu poderia ler a Bíblia inteira ou saber todos os kins; ler todos os poemas; escutar Stravinsky e Bach; e ficaria ainda mais cego e surdo, pois enquanto eu não "ver a lágrima no olho do peixe" eu nada serei.
Pense nisso e se desapegue de tudo aquilo que não seja tua voz própria: sal de tua língua: sabor de teu orvalho: lágrima no teu olho de peixe.
Depois que retornares, sim, podes ler os kins: ler até bula de remédio, histórias em quadrinhos, ver o Faustão, que nada disso te diluirá.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
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